ENTREVITA COM O ARTISTA UELITON SANTANA
O artista Ueliton Santana reside em Rio Branco (AC) respondeu algumas questões feitas pela DaP a respeito de sua produção e de seu trabalho “Soldados de borracha”. A obra que integra a exposição Tu não te moves de ti, a quarta do edital Arte Londrina 7.
“As redes principalmente no Nordeste e no Norte tem uma importância cultural ampla, sendo o seu uso diverso, desde dormir, descansar, esperar, carregar pessoas em passeios, carregar pessoas doentes pelos varadouros das matas, enterrar mortos até outras utilidades. Ao pensar no termo rede, essa palavra atualmente dispõe de um arsenal de variações com relação ao seu “significado”, dependendo da área do conhecimento. No seu sentido mais amplo temos redes sociais; rede de lojas, de pesca, de esgoto, de vôlei…enfim… A partir dessas observações, comecei a comprar redes em diversos locais do Brasil e, por último, dei preferência por adquiri-las em algodão cru, mais ou menos o mesmo tecido utilizado para a fabricação de pinturas em tela.”
– Ueliton Santana
COM QUEM TEM AS MELHORES CONVERSAS SOBRE O QUE TE INTERESSA COMO ARTISTA?
Comigo mesmo introspectivamente. Com alguns poucos amigos não ligados diretamente a Arte.
COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Com uma vivência uma sensação um pico de atenção diferenciada, um choque, ou em uma banalidade qualquer, é muito relativo o processo criativo é muito variado; pra mim nunca foi unifirme.
QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
Gosto de muitos em alguns aspectos (nem todos), Picasso, Basquiat, Hering, Cildo meireles, Alberto Baraya. Curadores: Moacir do Anjos, Agnaldo Farias. Teóricos: Homi Bhaba, Agamben… São muitos…
O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
A selva.. Um livro sobre o “repovoamento” da Amazônia nos ciclos da borracha…leio diversos livros na verdade ao mesmo tempo (da poesia…a constituição).
QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
O comportamento humano em suas mais diversas manifestações: A violência extrema, os hibridismos humanos que reverberam na sociedade e afetam diretamente a nossa vida, os picos e mutações identitárias que o ser humano assume: territorializa, mata e morre por isso. Essas fronteiras tênues, líquidas que o HUMANO/SELVAGEM habita e transita.
O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Produzo muitas coisas ao mesmo tempo, de workshops, aulas ao meu trabalho mais íntimo no atelier na madrugada, falo de muitas coisas pois tudo isso afeta o nosso trabalho diretamente. Tenho atualmente uma pesquisa sobre a violência, e a fronteira HUMANO/social/SELVAGEM.
QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?
Extremamente eclético, a maioria das músicas me cansa, me irrita se ouvir muito tempo; então fico mudando sempre, tenho ouvido Maria Betânia com mais frequência, mas vou do brega, rap, funk a música clássica. Creio que o artista precisa de experiências diversas em todos os campos para afinar aguçar a sensibilidade.
QUE EXPERIÊNCIA FOI IMPORTANTE PARA QUE VOCÊ SE ENTENDESSE COMO ARTISTA?
Não sei. Talvez eu ainda não me entenda como artista(me refiro a um conhecimento profundo do fazer do artista). Ainda estou pensando na frase do Sócrates: Conhece-te a ti mesmo. (Risos). Vivo ainda a cada dia questionando o trabalho a coerência e se vale a pena essa ou aquela obra, ou a trajetória em si. Não é crise existencial, é reflexão sobre a forma de estar no mundo… enfim…
QUAIS USOS DAS REDES VOCÊ CONHECE?
Se a pergunta se refere a Rede essa criada pelos índios que em tupi guaraní tem o nome de INI, que significa coisa em que se dorme, fio: conheço vários usos entre eles; dormir, descansar, enterrar mortos, carregar doentes nas matas, transar dentro dela, balançar crianças, esperar a caça para mata-la nas matas a noite, transportar padres e nobres (geralmente os carregadores eram índios e escravos, enfim muitos usos: a rede é a casa, onde o caboclo a carrega para onde vai, é a arquitetura da floresta a companheira de solidão do seringueiro no meio das matas, extrapola seu sentido semântico: rede é a reflexão o intervalo, a meditação o equilíbrio, o caminho do meio entre duas correntes…
QUAIS IMPLICAÇÕES CONCEITOS SÃO CONVOCADOS AO MOSTRÁ-LAS?
Convocamos uma reflexão a partir da nossa Identidade, território, nossas peles, nossas tatuagens da memória, nossas vivências, nossas marcas, glórias e sofrimentos tatuados nessa rede pele, que reverbera e se reinventa em seus usos e metáforas…