O artista Rodrigo Moreira, que reside atualmente em Nova York, já concedeu uma entrevista para a DaP no começo do ano, durante a primeira exposição do Arte Londrina 7. Agora, ele responde algumas perguntas relativas ao trabalho Estratégias de Segurança, que integra a quarta e última exposição do edital, Tu não te moves de ti.

 

Meus trabalhos buscam evidenciar tensões sociais que emergem em situações cotidianas, buscando em espaços públicos por narrativas individuais que lançam luz sobre conflitos em um contexto social mais amplo. Assim, desejo evidenciar conexões e choques entre política, identidade e práticas sociais por meio da observação atenta do espaço público, interações pessoais, comunicação de massa, publicidade e subjetividades. Ao incorporar estratégias, imagens e textos de comunicação de massa em minha prática artística, trabalho em maneiras de distorcer a mensagem original para realçar questões sociais mais complexas. As obras aqui apresentadas lidam com temas como imigração, discurso e identidade de gênero, política, mídia e tecnologia.

– Rodrigo Moreira

 

COMO O LAMBE-LAMBE SE INSERE NA SUA PRODUÇÃO?

Muitos dos meus trabalhos se desdobram em várias técnicas e suportes. Sempre que há possibilidade procuro levar alguns deles para a rua, especialmente se é um tópico que pode ser associado àquele espaço. Estou sempre atento à comunicação social, publicidade e design gráfico em espaços públicos. O lambe-lambe é uma maneira de usar estratégias da comunicação de massa para complexificar um pouco mais as coisas e se comunicar com mais pessoas.

 

EM QUE MEDIDA TE INTERESSA O TRÂNSITO ENTRE O ESPAÇO DA GALERIA E A RUA?

Os trabalhos quando estão no espaço público tomam uma nova configuração, nem sempre são percebidos como uma obra artística e o contexto permite uma interação maior com o público. Eu percebo que eles podem afetar mais pessoas e desencadear reações que seriam filtradas em uma galeria. É importante pra mim me comunicar com as pessoas através dos meus trabalhos e que elas se comuniquem com eles.

 

SE HÁ ESTRATÉGIAS DE SEGURANÇA, EXISTE A EMINÊNCIA DE UM POSSÍVEL ATAQUE? COMO VOCÊ ENTENDE ESTE CENÁRIO?

O título “Estratégias de Segurança” veio de uma matéria de jornal que listava dicas de como se comportar no espaço público para se proteger contra ataques de natureza homofóbica. No meu trabalho é usado um pouco como ironia, um pouco como alerta. Eu estava mais intrigado pelo discurso que pela eminência do ataque em si. Acredito que há sim um possível ataque, mas as táticas/técnicas de defesa ou prevenção precisam ser outras. Esse trabalho foi produzido em 2014, inspirado por um discurso midiático que atinge milhares de pessoas e reforça a desinformação, o medo, a ignorância. E hoje esse discurso persiste, se desdobrou em outros ataques, se institucionalizou, venceu as eleições.

 

A ESTRATÉGIA, A QUE SE REFERE SEU TRABALHO É NÃO PARECER SER, COMO UMA ESPÉCIE DE CAMUFLAGEM? E SE ELA FUNCIONA, ESTAMOS LIDANDO COM APARÊNCIAS?

Na minha leitura, as estratégias listadas estão à serviço do anulamento, da repressão e do sufocamento das identidades no espaço público. Elas reforçam a fragilidade das aparências.

 

OS VIOLENTOS PODEM SER ENGANADOS?

Não acho que enganar seja a melhor estratégia. Os violentos podem ser vencidos, o golpe pode ser aparado.

 

HÁ UMA INGENUIDADE NO DESEJO DE NORMA?

Há ingenuidade, medo e ignorância. Mas a norma também já venceu, por isso precisamos ficar atentos a ela.

 

HOUVE ALGUMA REAÇÃO AO SEU TRABALHO QUE SEJA MEMORÁVEL? COMO FOI?

Eu sempre procuro voltar aos lugares onde os lambes estão depois de algum tempo para registrá-los. Por vezes eles são alterados, rabiscados, rasgados. Eu vejo que é algo intencional, dirigido à determinadas palavras. Isso já aconteceu em diferentes projetos que levei para rua. Pra mim é sempre interessante observar a reação das pessoas, ainda que elas destruam o trabalho.

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