ENTREVISTA COM O ARTISTA FLÁVIO ABUHAB
Flávio Abuhab é artista, reside em São Paulo (SP) e participa da quarta exposição do Arte Londrina 7, Tu não te moves de ti. Os trabalhos de Flávio atualmente em exposição na Divisão de Artes Plásticas são Brazilian way of life I, Brazilian way of life II, Consumição, Segundo movimento e Terceiro movimento.
“As obras de Flávio Abuhab selecionadas para a exposição tratam de invólucros que encerram um segredo. O fato de serem semelhantes às embalagens “invioláveis” que traficantes de droga utilizam para despachar seus “produtos”, com o intuito de estes não serem facilmente detectáveis, não faz destes “invólucros misteriosos” uma representação dos pacotes ilícitos que costumamos ver em notícias sobre apreensão de drogas. Por se tratar de arte, não nos é permitido inspecionar o conteúdo (lacrado) das embalagens, daí o mistério insolúvel.”
– Juliana Monachesi
COM QUEM TEM AS MELHORES CONVERSAS SOBRE O QUE TE INTERESSA COMO ARTISTA?
Hoje em dia com quase ninguém. Com exceção de alguns contatos com alguns críticos e/ou curadores de arte, que eventualmente visitam meu ateliê e mostram interesse por meu trabalho. Essa interlocução digamos, “mais especializada”, aconteceu principalmente no meio acadêmico por ocasião de minha graduação e pós-‐graduação, e quando dividia um de ateliê com outros artistas, no passado.
COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Por varias razões diferentes, mas quase sempre começa por meio de algumas conexões cerebrais e operando no território das ideias. É um processo muito particular, creio! Gosto de lançar mão de diferentes técnicas, suportes e materiais, de acordo com o que cada trabalho pede. Acho que meu processo de produção se aproxima mais dos processos da Poesia Contemporânea ou Visual, do que com os procedimentos mais tradicionais das Artes Plásticas.
QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
Como artista, tenho particular interesse nas experiências artísticas europeias das primeiras décadas do século passado (as chamadas “Vanguardas Históricas”) e seus desdobramentos nos EUA e América Latina após o final da segunda guerra mundial. Ainda do ponto de vista do artista, acredito que, grosso modo, Pablo Picasso; Marcel Duchamp; Joseph Beuys e Andy Warhol, cada um em seu momento e a seu modo, foram determinantes para uma ampliação das possibilidades e meios de produção em arte contemporânea. Nomes como, Kurt Schwitters; Joseph Kosuth; Cildo Meireles; Nelson Leirner; Paulo Brusck; Luiz Camnitzer; Leon Ferrari; Elaine Sturtevant ; Rirkrit Tiravanija, ou mais jovens como Aníbal López e Matheus Rocha Pitta, entre outros, me despertam interesse. Teóricos, que tive a oportunidade de conhecer durante o desenvolvimento de minha dissertação de mestrado, e que foram leituras extremamente importantes para sustentação teórica de meus escritos, como: os textos do próprio Duchamp (um artista teórico); Humberto Eco; Mário Pedrosa; Guy Debord; Lucy Lippard; Rolan Barthes; Octavio Paz; Nicolas Bourriaud e Alberto Tassinari.
O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
“O eremita viajante” uma coletânea de haikais do Matsuo Bashô, e não por acaso, “Tu não te moves de ti” da Hilda Hilst.
QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Muitas coisas, como por exemplo: a capacidade e a disponibilidade que grande parte da população mundial tem de acreditar naquilo que não enxergam, e se negarem a ver o incontestável. Talvez o Brasil atualmente seja um bom exemplo disso!
O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
No momento estou trabalhando em um objeto que tem como referencia a obra “Viva Maria” de 1966, do artista ítalo paulistano Waldemar Cordeiro (foto ateliê) e fazendo pequenas edições de múltiplos bidimensionais.
QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?
Quase que invariavelmente, as que sempre ouvi: MPB; tropicalistas e pós tropicalistas; rock and roll de raiz; jazz instrumental e música erudita de alguns períodos e autores pontuais
QUE EXPERIÊNCIA FOI IMPORTANTE PARA QUE VOCÊ SE ENTENDESSE COMO ARTISTA?
Creio que as nota altas que eu recebia no Colégio na disciplina de Artes quando criança, e que mais tarde culminou com a corajosa opção por atuar em uma atividade tão especial e ao mesmo tempo
tão inútil, como é a Arte Contemporânea. Gosto da ideia de que o artista é o “rei dos animais”, na pirâmide laboral, embora não tenha vivido profissionalmente da minha produção, mas sim da Arte educação.
O QUE VOCÊ PRETENDE AO TORNAR EVIDENTE A RELAÇÃO ENTRE ARTE E VIDA?
Não sei exatamente, talvez corroborar com uma tradição de 40 mil anos de arte, que tem como referencia a vida (aquilo que chamamos de “mundo real”, formado por seres, coisas e linguagens) e
a tentativa de representá-‐la/registrá-‐la e resignificá‐la. Uma das heranças deixadas pela Pop art, para a minha geração principalmente, e para a arte contemporânea em geral, foi, de alguma forma, a democratização do status da obra de arte e de seu universo imagético. E isso sempre me interessou em arte! Não obstante à importância da Forma na arte, mas também não sendo essencialmente um artista formalista, gosto de jogar com as relações entre signo e mensagem como elementos impulsionadores de meu trabalho.
COMO A ILICITUDE TRÁFICO DE DROGAS APARECE NESSE CONTEXTO?
Esses trabalhos apresentados no Arte Londrina 7, são parte de uma série que iniciei em 2016, que eu realizava sobre embalagens de produtos em geral, até que cheguei a esses pequenos sólidos quadrangulares, quase minimalistas, e alegoricamente muito fortes e eloquentes, como contraponto aos Mitos e Tabus das cínicas narrativas de boa parte das sociedades atuais.
Regina Lúcia Abuhab
Parabéns meu irmão. Você merece. Tudo de bom.
Elaine Mathias
Não é a familiaridade que me faz admirá-lo.
Mas sua firme, comprometida e incansável relação com a arte. Parabéns !
Célia Coutinho
Flávio Antônio, eu sou e serei sempre sua primeira fã! Um grande abraço. Muito sucesso!
Flávio Abuhab
Obrigado queridonas!!!
Lembrando a todxs que em breve o texto da Juliana Monachesi estará disponível no Catálogo on line do Arte Londrina 7, aqui no site do Dap/Uel.
Bjs!!!