O artista André Barion vive e trabalha em São Paulo (SP) e respondeu algumas questões feitas pela DaP. Ele participa da 3ª exposição do ARTE LONDRINA 7, Precipitações, com o trabalho A Árvore Cansada.

 

O trabalho A Árvore Cansada consiste em um tronco de eucalipto tratado de 290 cm suspenso por fios de strass dourado, sobre o tronco se encontram morangos de acrílico e correntes de ouro. Os fios que seguram o tronco são divididos em dois pontos de apoio: uma peça de cerâmica dourada cintilante irregular, de formato orgânico, e um tubo retangular de aço enferrujado. 

No trabalho me interessa muito a relação que os fios de strass estabelecem com o tronco, sendo o primeiro um objeto extremamente frágil empregado majoritariamente de maneira ornamental, que aqui sustenta outro muito mais pesado que ele, que por sua vez é utilizado na maioria dos casos para a construção de escoras ou palanques, cumprindo uma função essencialmente estrutural. Outra relação interessante que se instaura na obra decorre da interação entre objetos cujo valor agregado difere significamente, trazendo questões quanto a associação entre o valor adicional que adquirem tais bens ao serem transformados durante o processo produtivo, a função desses objetos e sua fragilidade. No geral questões referentes ao que se espera de um material ou objeto, seja quanto ao seu peso, robustez, valor, etc.

 

– André Barion

 

COM QUEM TEM AS MELHORES CONVERSAS SOBRE O QUE TE INTERESSA COMO ARTISTA?

As melhores conversas tenho com amigos e amigas, na maioria artistas, porém as que mais me interessam são aquelas sobre assuntos corriqueiros, nas quais aprendo muito sobre o ser e o estar e principalmente sobre como essas pessoas, que tanto admiro e respeito, pensam.

 

 

COMO UM TRABALHO COMEÇA?

Na maioria dos casos um trabalho dá sequência a outro. As mudanças e redirecionamentos da produção marcam o que poderia ser o começo do trabalho, sendo essas desde aproximações claras de assuntos dentro do próprio conjunto de trabalhos, até experiências das mais diversas às quais estamos sujeitos diariamente. Ultimamente meu trabalho vem sendo muito influenciado por vivências que tive e que vem modificando a maneira como entendo a relação entre amigos, seja eu parte dessa relação ou não.

 

 

QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

Os mais importantes não saberia dizer, mas atualmente me interessa muito e estou olhando de perto trabalhos de artistas como Betye Saar, Fred Wilson, Wesley Duke Lee, Carmela Gross, Laura Vinci, Márcia X.

 

 

O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

Atualmente estou lendo Só Garotos da Patti Smith, muito lindo! E também A Floresta Sombria que é o segundo volume da trilogia Lembrança da Terra do Passado, uma ficção científica do escritor chinês Liu Cixin.

 

 

QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?

Nos últimos tempos minha atenção vem sendo tomada com muita frequência por situações que denunciam qualquer tipo de intimidade. Aquele lugar que não fazemos parte, ali onde existe algo que pertence apenas a aquelas 2 pessoas que não sei quem são. Momentos que se dão em recortes de conversas que ouço passando na rua, ou em cenas que se montam precisamente mas sem cuidado algum, compostas por objetos quaisquer na sala de alguém que não conheço.

 

 

O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?

Atualmente estou fazendo uma série de desenhos sobre dois homens que vivem sozinhos no deserto a enterrar e desenterrar pedras. Estou também organizando um evento/instalação na qual será colocado um cartório dentro de uma exposição com o objetivo de legitimar contratos de união e separação de casais.

 

 

QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?

Nos últimos dias estou ouvindo muito Chose Your Weapon de Hiatus Kayote, Samantha  do Toro y Moi e o El Mal Querer da ROSALÍA, três álbuns muito lindos!

 

 

QUE EXPERIÊNCIA FOI IMPORTANTE PARA QUE VOCÊ SE ENTENDESSE COMO ARTISTA?

Por minha família estar sempre muito próxima da arte, eu também estive, e por isso demorei muito para me entender como artista, me afastava e negava essa possibilidade. O momento importante que marcou essa virada é muito diluído mas é basicamente a aceitação da importância da produção artística pra mim.

 

 

COMO OS OBJETOS PASSAM A TER VALOR?

Aos objetos é dado valor da mesma maneira que o valor existe em tudo, valor é valor, considerando toda a complexidade que o compõe, que transpassa desde relações interpessoais até mecanismos obscuros que permeiam todo nosso sistema de produção e consumo. O problema é que acreditamos no valor, e principalmente no valor das coisas. Isso porque acreditamos na existência de tais coisas, e portanto, na nossa própria. O único movimento que pode ocorrer na relação entre valor e coisa é o de perda, a nenhum objeto é dada qualquer forma de valor, os dois sempre estiveram juntos; a perda desse valor, no entanto, é real mas só vem junto com a perda de todo o resto. Ao se perder, o objeto perde o valor, esse valor que nunca lhe foi dado passa a existir no único lugar que ele realmente pertence, o lugar antes de tudo ter valor. A existência do valor se dá somente assim, uma vez que antes ela estava subjugada a existência de algo, que por sua vez estaria sujeita a existência de um terceiro. Quando esse terceiro deixa de existir tudo se perde, e é aí que o valor está.

 

 

A QUE CANSAÇO O TRABALHO A ÁRVORE CANSADA REMETE?

O cansaço na Árvore Cansada diz sobre a possibilidade de algo que não se cansa se cansar. Quem estaria lá para amparar esse cansaço? Gosto de pensar na frase “quem não cansa não descansa” para além de uma interpretação positivista, no sentido de causa e consequência, a fim de propor algum movimento para essa árvore, afinal quem nunca acordou cansado?

 

 

DOURADO, BRILHANTE, CANSADO – HÁ ALGO DE ORGÍACO/PERFORMÁTICO NESTA JUNÇÃO?

Com certeza, há expectativa, projeção, lascívia; toda a relação entre corpos em orgia, o arrebatar-se, desprender-se, sair de si, elevar-se, correspondendo ao sentimento de prazer que vem da existência desses corpos nesse contexto. O próprio termo orgia adquiriu outras conotações que o aproximam de lugares de confusão ou desperdício, muito distante da sua origem como forma de adoração, corpo de conhecimento secreto, mas que em todos os casos se aproximam muito das relações postas pela Árvore Cansada.

 

Abaixo seguem fotos do artista e seu ateliê:

 

 

 

 

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