A artista Marina Hachem vive e trabalha em São Paulo (SP), e respondeu algumas questões feitas pela DaP. Ela participa da 3ª exposição do ARTE LONDRINA 7, Precipitações, com o trabalho Daisy.

 

A desconstrução das minhas origens sempre se colocou como etapa fundamental para uma maior compreensão da minha identidade e da minha própria produção e pesquisa. O resultado é um espaço suspenso entre o real e o imaginário; uma maior intimidade diante de uma narrativa fragmentada e em reconstrução.

– Marina Hachem

 

COM QUEM TEM AS MELHORES CONVERSAS SOBRE O QUE TE INTERESSA COMO ARTISTA?

Com meus amigos, tanto os que trabalham no meio da arte como também os de fora. Acho que os dois se complementam.

 

COMO UM TRABALHO COMEÇA?

Pra mim não existe uma formula pronta para como começar um trabalho… acontece de maneiras diferentes. As vezes gosto de planejar, desenhar e desenvolver bastante o trabalho antes de realmente começar a executar. Outras vezes já vou direto, sem pensar muito. O interessante são os imprevistos que acontecem durante esse processo, são muito importantes por não serem calculados e acabam quase sempre sendo uma parte fundamental no resultado final do trabalho.

 

QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

São muitos. O que geralmente acontece é que acabo entrando em contato com a obra de artistas baseado no que estou trabalhando e sentindo no momento. Por meio de pesquisa acabo encontrando obras e referencias que tem relação com aquilo que estou buscando ou as vezes diante de uma discussão sobre o trabalho alguém me sugere algo.

Quase sempre minhas referencias são de diferentes campos na arte como: literatura, cinema, musica, teatro, artes visuais etc.

 

O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

No momento estou lendo Anarchitect sobre a obra do artista Gordon Matta-Clark.

 

QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?

São muitas. Mas no momento estou bem interessada em arquitetura, especificamente no processo de construção de edifícios e casas. Acabei de realizar uma instalação no programa de residência da SVA (School of Visual Arts) em Nova Iorque e estou ainda desenvolvendo e aprofundando essa pesquisa: a relação da arquitetura com o corpo humano. Tenho visitado construções e obras de ruas que ainda estão em seu processo inicial. Você consegue ver todas as estruturas (esqueletos) e materiais crus, fica tudo exposto e a mostra. Uma experiência visceral.

 

O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?

Estou trabalhando em uma nova série de pinturas e esculturas. A escultura é uma técnica nova pra mim, está sendo bem desafiador e interessante ver esse desdobramento no meu trabalho.

 

QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?

Ouço gêneros de musica bem diferentes entre si, vai de música clássica até rap.

 

QUE EXPERIÊNCIA FOI IMPORTANTE PARA QUE VOCÊ SE ENTENDESSE COMO ARTISTA?

Uma das coisas mais importantes e que ainda lembro vividamente foi o fato de desde muito pequena minha mãe me levar a museus e exposições. Era um dos meus programas favoritos. Além disso, o meu colégio valorizava muito as artes e incentivava isso muito cedo nos alunos. O ateliê era incrível, aprendi e me identifiquei muito cedo pelo desenho e pela pintura. Vivia com um caderno de desenho pra cima e pra baixo. É engraçado ver hoje como meu traço ainda é muito parecido com como aprendi quando pequena no colégio.

 

QUE CENAS, EVENTOS FAMILIARES, CONSIDERANDO SUA ASCENDÊNCIA LIBANESA, TE INTERESSA RECONSTRUIR?

O trabalho que participa da exposição Precipitações, no Arte Londrinas 7, foi produzido a partir de arquivos pessoais e apropriação de documentos e registros de terceiros. A ideia é a construção de um espaço suspenso, que fica no limiar entre o real e o imaginário. Busco minha identidade ancestral que, para mim, é desconhecida, devido à minha descendência libanesa distante. Assim, recrio cenas e situações desta memória familiar que nunca vivi, e trago rupturas em minhas próprias experiências.

A desconstrução das minhas origens sempre se colocou como etapa fundamental para uma maior compreensão da minha identidade e da minha produção e pesquisa. Durante o processo de pesquisa para essa série acabei conhecendo muito da história da minha família e até entrei em contato com parentes que não conhecia e ainda vivem no Líbano.

 

COMO INTERPRETA A PLASTICIDADE DA MEMÓRIA QUE SE MOLDA PARA NOSSOS PROPÓSITOS PRESENTES? A MEMÓRIA SE SUBMETE?

A memoria continua sendo um tema de grande importância no meu trabalho. Recentemente enquanto estava fazendo pesquisa em torno do universo e conceitos acerca da memória, me deparei com o livro “No Caminho de Swann”, de Marcel Proust – o primeiro volume da série “Em Busca do Tempo Perdido”. Nele, o autor discorre sobre a formação da memória involuntária, entendida como um resgate do passado que se apossa involuntariamente dos nossos atos e do presente. A memoria pra mim e no meu trabalho aparece como um reflexo dessa memória – desorganizado e fragmentado, mas tomado por inúmeros sentidos e narrativas.

 

 

Ateliê da artista

 

 

Obra exposta na DaP: Daisy, Marina Hachem.

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