Guilherme Bergamini, artista mineiro, nasceu e reside em Belo Horizonte. Ele participa da exposição EMPRESTA-ME UM DE SEUS DIAS com os trabalhos In memorian e Série: Educação para Todos e respondeu algumas perguntas à DaP nesta entrevista:

 

COM QUEM TEM AS MELHORES CONVERSAS SOBRE O QUE TE INTERESSA COMO ARTISTA?

Atualmente, minhas melhores conversas são com minha filha, livros e revistas. Aos quatro anos de idade, é com a Malu que converso como artista. No nosso escritório ateliê brincamos, conversamos e aprendemos juntos. Deixo sempre em estoque tintas, pincéis, papéis e cartolinas. Ela começa a pintar no papel e, em menos de cinco minutos, seu corpo transforma-se em uma obra de arte performática. Assino seis revistas de arte de três países e me deparo conversando com elas diariamente.

 

COMO UM TRABALHO COMEÇA?

Meus trabalhos têm início, na maior parte, com uma ideia primária, minha busca ansiosa e persistente de amadurecer e produzir. Há projetos em que me deparo com uma ideia, que está latente em mim, mas vejo que em determinada hora esse trabalho criará forma e sentido, mesmo que para isso possa demorar dias, meses ou anos. Já em outros realizo de forma livre e espontânea, sem o compromisso de finalizá-lo. Deixo em “banho-maria” e com o tempo vão surgindo novos sentidos de forma a madurecê-lo. Após esse percurso começo a organizar todo o material coletado e dou vazão. É claro, um trabalho nunca se acaba, ele sempre começa.

 

QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

Essa é uma pergunta difícil de responder porque são muitos artistas e teóricos que admiro.
No momento, estou editando um trabalho realizado nos últimos dois anos, utilizando como suporte um celular. As fotografias foram produzidas pelas ruas de Belo Horizonte, em sua maior parte no Centro da cidade, durante o período noturno. E neste caso, as características desse trabalho me vem em mente o texto “Flâneur”, do filósofo alemão Walter Benjamin. Vejo-me caminhando pelas ruas, entorpecido, surgindo em meu caminho fotografias.

 

O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

Gosto de ler diferentes obras simultaneamente. No momento estou lendo o livro “A Memória das Coisas – ensaios de literatura, cinema e artes plásticas”, de Maria Esther Maciel e as revistas Foam Magazine, British Journal of Photography, GUP, Zum, Select e National Geographic.

 

QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?

A desigualdade social e a injustiça.

 

O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?

Estou em fase de finalização de meu projeto “Inventário das Areias”, uma documentação que realizo desde 2006, na Fazenda das Areias, uma propriedade de minha família no município de Sete Lagoas, em Minas Gerais. Fotografo o processo de urbanização em seu entorno e as mudanças ocorridas no local nos últimos 13 anos. Considero este o meu trabalho mais longo.
Estou também em processo de edição de um trabalho realizado nos últimos dois anos produzidos com aparelho celular nas ruas de Belo Horizonte, cidade onde moro.

 

QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?

Rock progressivo, MPB e música clássica.

 

QUE EXPERIÊNCIA FOI IMPORTANTE PARA QUE VOCÊ SE ENTENDESSE COMO ARTISTA?

Sou uma pessoa que lida com a ansiedade de diversas formas. E foi a fotografia que me permitiu canalizá-la e extravasá-la. Comecei a fotografar em 1996 e pude aprimorar a minha técnica em um laboratório preto e branco caseiro que montei na casa de minha avó. Foi a partir daí que tudo começou. Minha ansiedade associada a uma inquietude na busca de novos trabalhos faz com que eu sempre experimente e ouse. Foi assim que me percebi artista.

 

COMO ERA SUA PRIMEIRA ESCOLA? COMO ERA A CASA DE SUA AVÓ? ELAS AINDA EXISTEM? COMO ESTÃO?

Minha primeira escola, que eu me lembro, foi no município de Monte Dourado, no Pará, no Projeto Jari. Tenho ótimas lembranças de lá: o contato com a natureza, os amigos de várias partes do Brasil e, principalmente, o povo paraense. Já a casa da minha avó, em Belo Horizonte, era o local de encontro da família. Duas vezes por ano, eu passava as férias em Belo Horizonte e ficava por lá o mês inteiro, brincando com meus primos, passeando e vendo os livros de arte na pequena biblioteca dos meus avós, falecidos. Eles me proporcionaram experiências e oportunidades únicas que permitiram com que eu me encontrasse artista.

A casa ainda é propriedade da família, porém está alugada para uma pizzaria. Foi reformada e todo o projeto arquitetônico, alterado. Ela acabou, não faz mais sentido para mim, morreu.

 

A EDUCAÇÃO, QUE SEU TRABALHO ESTABELECE COMO IMPRESCINDÍVEL PARA A DEMOCRACIA, APARECE EM SEU TRABALHO COMO ESPAÇO EM RUÍNA. PODE NOS FALAR SOBRE ISSO?

A série “Educação para todos” é uma metáfora visual sobre a educação pública no Brasil.
Já não é de hoje que a educação vem passando por um processo de sucateamento.
Com a PEC 55 mais conhecida como a PEC do Fim do Mundo que congela os gastos em educação nos próximos 20 anos e os recentes desastres realizados com o atual governo, estamos próximos de um colapso público educacional, em que todos sairão perdendo.
É lastimável viver esse momento tenebroso que prejudicará as classes menos favorecidas e beneficiará os conglomerados privados de educação em que poucos terão acesso.

 

COMO SUAS VIAGENS PELO MUNDO INTERFERIRAM NAS PERCEPÇÕES QUE DESENVOLVEU SOBRE OS ASSUNTOS QUE APARECEM EM SEUS TRABALHOS?

Viajar é uma das melhores ações que podemos fazer, dedicar e investir.
Conhecer novos lugares e pessoas são de extrema importância emocional, faz bem pra alma.

Meu pai é engenheiro e trecheiro. Com isso desde os meus dois anos de idade tive oportunidades únicas do morar e conhecer cidades e estados brasileiros, uma riqueza cultural ímpar.

 

 

Escritório-ateliê do artista Guilherme Bergamini

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