ARTE LONDRINA 7 – ENTREVISTA COM O ARTISTA TALES FREY
O artista Tales Frey também respondeu algumas perguntas feitas pela DaP. Natural de Catanduva – SP, vive e trabalha entre São Paulo e Portugal. Participa da 1ª exposição ARTE LONDRINA 7 – MELHOR SER FILHO DA OUTRA.
QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Muita coisa chama a minha atenção, mas eu percebo que a forma como as pessoas se desvendam por meio de suas exterioridades é algo que desperta constantemente a minha atenção. Ao mesmo tempo que vejo a camada mais externa de cada indivíduo, algo é promulgado por meio desse invólucro, seja para esconder ou revelar alguma coisa, a mensagem está ali sobre cada corpo. Há padrões, normalizações, códigos impostos que são absorvidos inconscientemente por uns e conscientemente por outros. Poucas pessoas ousam questionar em meio a uma massa homogeneizada e, então, as que renegam a utilização de uma camada externa padrão são julgadas como incorretas. Isso é realmente algo que sempre estou refletindo e percebo claramente que isso acaba materializado no meu trabalho artístico.
O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Neste momento, estou dando continuidade a uma série de trabalhos em que coloco as diferenças em convívio por meio de adornos/indumentos. Um dos trabalhos possivelmente terá o título de “Luta de Classes”, os outros têm títulos provisórios: “Penetras” ou “Invasão”.
Como vou expor meus trabalhos mais recentes em junho no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica com o Paulo da Mata e com a curadoria da fabulosa Daniela Labra, estou preparando textos sobre as obras, separando imagens e refazendo algumas e finalizando alguns trabalhos novos também para este evento na cidade do Rio de Janeiro.
Além disso, tenho me empenhado mais no meu preparo físico, porque vou apresentar uma série de performances bem exaustivas minhas em sequência até o final do ano. Na Argentina, vou apresentar “Estar a Par” ao vivo e também como objeto e vídeo na BienalSur. No Brasil, no estado de SP, vou apresentar pela 22ª vez a ação “F2M2M2F” no SESC São José dos Campos, “Ponto Comum” no SESC Santo Amaro, “Conjunto Sensível” no SESC Sorocaba, “O Corpo Nunca Existe em Si Mesmo” no SESC Rio Preto. A convite do SESC RJ, vou apresentar alguns desses trabalhos também. Ainda, vou me apresentar na próxima edição do “A! Performance Festival” no Akureyri Art Museum na Islândia.
Fora as produções, estou também vivendo sempre as desproduções ao mesmo tempo e, com isso, remanejando o espaço da minha casa para armazenar as obras que retornam e retirar outras que serão expostas. Antes de ontem, voltei de Lisboa com toda a minha exposição “Metáforas Funcionais para Corpos no Espaço” que esteve patente na Galeria Monumental. Nesta semana, levo algumas obras minhas para Guimarães para o CAAA – Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura para integrarem uma exposição coletiva com curadoria do Ricardo Bastos Areias e outras obras para a Galeria Sput&Nik no Porto para uma outra coletiva. Nestes próximos dias, receberei de volta algumas obras de diferentes artistas que estiveram em um leilão beneficente para angariar fundos em apoio a Moçambique. Estou semanalmente embalando e desembalando trabalhos de arte. Eu já guardo as mesmas embalagens, inclusive, para evitar a produção massiva de lixo.
QUE SITES VOCÊ COSTUMA ACESSAR?
Público, Carta Capital, Folha de São Paulo, El País, NY Times, entre outros veículos estão sempre sendo acessados para eu me atualizar diariamente sobre o que está acontecendo no mundo. Quando eu quero sondar umas tendências em moda, olho a sessão Catwalk principalmente da Vogue italiana, da Vogue japonesa e inglesa. Uso Facebook, mas tenho noção de que seria extremamente libertador não precisar de rede social. Vejo milhões de vídeos aleatórios no Vimeo e YouTube e assisto clipes e acompanho as letras das músicas que escuto pelo letras.mus.br, Lyrics.com entre outros. UbuWeb é um portal incrível para eu acessar vídeos de artistas já consagradas(os) e que não encontraria facilmente na internet. Xtube (quem nunca?). Passagens aéreas eu tenho sempre buscado pela eDreams e, principalmente pelo Skyscanner. Há algum tempo, eu amava abrir junto de umas(uns) amigas(os) um tumblr chamado “Galeria Tosquista”. A risada é sempre garantida, porque o conteúdo é puro deboche.QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?
Embora eu escute muita coisa (de MPB a EBM – Electronic Body Music), desde a minha viagem para a Nova Zelândia para apresentar uma performance no The Performance Arcade em Wellington, eu tenho escutado obsessivamente dois artistas neozelandeses: Princess Chelsea e Jonathan Bree. Comprei dois vinis (um de cada artista) e escuto sem parar o lado A e B dos dois quase diariamente. Até a minha sobrinha canta “You’re so cool” do Bree e meu marido coloca por vontade própria o disco da Princess Chelsea pra rolar. Antes disso, estava ouvindo bastante Alex Cameron, Letrux, Wooden Shjips e, recentemente, o Paulo da Mata me apresentou a Duda Beat com um som delicioso.
QUE EXPERIÊNCIA COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?
Na minha primeira viagem para a Espanha, ao ver “O Jardim das Delícias Terrenas” do Bosch, eu tive um grande impacto e nem sei explicar bem o porquê, mas eu chorei. As cores, os inúmeros detalhes, o erotismo, enfim, tudo aquilo me arrebatou. Fiquei perplexo nesse contato mais próximo com a obra e, ali, percebi que ver essa mesma pintura mediada por livros ou telas não tem nunca uma relação similar. Dentro de um Museu clássico como o Prado, a obra parece um quadro surrealista, porem pintado em 1504. É impressionante.
Em 2012, vi a reestreia mundial de “Einstein on the Beach”, do Bob Wilson, em Montpellier na França. Passei todas as horas hipnotizado pelas imagens lindíssimas criadas sobre o palco ao som de Phillip Glass como se tivesse permanecido alguns minutos no espaço apenas.
Da minha própria vivência artística, realço duas experiências bem marcantes: a participação no Rapid Pulse Performance Art Festival em Chicago na Galeria Defibrillator e no evento Performance Platform Lublin na tradicional Galeria Labirynt na Polônia. Outra experiência transformadora foi a estadia em Macapá a convite do Corpus Urbis, onde pude conviver com muitas(os) artistas da performance do Brasil que antes eu só trocava ideias online.
– PORQUE NÃO FAZER O QUE SE QUER SE SABEMOS QUE VAMOS MORRER?
Esse deveria ser o lema da humanidade, levando em conta naturalmente que a vontade de cada um(a) não pode afetar negativamente a vida de outra pessoa. Se todas as pessoas vivessem as suas vidas de forma íntegra sem o desassossego com um julgamento externo, tenho a certeza que o mundo seria um lugar menos tortuoso. Essa pergunta tem obviamente um sentido distinto entre pessoas céticas e ascéticas.
Silvana
Sou fã deste ser humano e grande artista.