Aline Luppi Grossi . Foto Karol Satake

A artista Aline Luppi Grossi também respondeu algumas perguntas feitas pela DaP. Ela reside em Paiçandu – PR e participa da 1ª exposição ARTE LONDRINA 7 – MELHOR SER FILHO DA OUTRA.

COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Todo trabalho começa a partir das minhas inquietações. A maneira com a que eu filtro o mundo, a partir dos olhos de uma pessoa gorda, tanto nas vivências pessoais cotidianas quanto no fazer artístico. O trabalho nasce a partir do momento em que eu já não consigo refletir apenas internamente e necessito jogar as reflexões de volta para a sociedade que convive comigo e com todas as outras corporeidades gordas.

QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
Tenho aprendido muito com as feministas negras, bell hooks e Djamila Ribeiro tem sido duas perspectivas fundamentais para algumas linhas de raciocínio. Procuro também ler mulheres gordas latino-americanas, levando em consideração os fatores sociais, políticos, culturais e geográficos dentro da visão dos corpos dissidentes, tendo contato com a pesquisa teórica e/ou as trocas cotidianas. Virgie Tovar, Judith Butler, Ludmila Castanheira, Jota Mombaça, Jussara Belchior e Fernanda Magalhães são alguns nomes dos quais tenho me aventurado a dialogar. Entretanto também dialogo com autores como Goffman e Le Breton.

O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
Terminei recentemente Ciranda de Mulheres – Clarissa Pínkola; atualmente estou relendo Cenários Liminares – Ileana Diéguz Caballeor e tenho a lista os artigos e obras de Jota Mombaça e a obra La cerda Punk – constanza alvarez castillo.

QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
As relações como um todo me chamam a atenção, seja entre seres humanos ou nas trocas com os espaços. Se a gente se encontrar na rua, eu serei a pessoa sem fones de ouvido, andando desacelerada, observando a vida acontecer ao redor. Conseguir perceber as pequenas nuances de como as coisas acontecem e a maneira como tais relações se dão, pra mim, é um fator fundamental para me sentir viva.

Performance O que você anda engolindo – Aline luppi Grossi. Foto Rodrigo Munhoz

O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Tenho trabalhado com dispositivos performáticos a partir das vivências do corpo gordo, focando nas possibilidades relacionais. Venho experimentando na prática e na teoria as possibilidades desse corpo enquanto arte política.

QUE SITES VOCÊ COSTUMA ACESSAR?
Sou viciada em dicionários de sinônimos e Apps de viagens (passagens, hospedagens, curiosidades), mas também recentemente tenho acessado com frequência o site buala – Jota Mombaça, além de pesquisas livres por referências e estímulos textuais e visuais dos dispositivos performativos que venho incorporando ao meu trabalho.
 
QUE MÚSICA VOCÊ OUVE?
Não tenho muita métrica para ouvir musica, numa mesma playlist você vai encontrar o álbum novo da Liniker, Castello Branco, Francisco el Hombre, Caetano, Maria Gadu, Imagine Dragons, Kaleo, até os especiais ao vivo do Zeca Pagodinho, Roberta Miranda, Preta Gil, Charlie Brown, AC/DC Chitãozinho e xororó e Daniel. Ás vezes nenhuma dessas é o que eu quero ouvir. Sempre vai do momento.

QUE EXPERIÊNCIA COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?
A descoberta da performance pra mim foi um momento crucial, percebi a potência de expressar artisticamente as minhas vivências enquanto corpo gordo e que a arte pode ser acessível tanto para quem produz quanto para o público. Conhecer estéticas como as de Grotowski e termos como “Fuleragem” abordado por Bia Medeiros – Corpos Informáticos foi importante para essa construção do fazer dentro do viés da performaceart / artevida.

COMO SÃO AS SENSAÇÕES/CONEXÕES ENTRE VOCÊ E AS PESSOAS QUE ACEITAM PARTICIPAR DAS PERFORMANCES? HÁ MOMENTOS EM QUE VOCÊ PERCEBE QUE AS AFETAÇÕES SÃO MAIS INTENSAS PARA O PARTICIPANTE?
Nunca obriguei ninguém a participar das minhas ações, me disponho ao caos de não conseguir prever exatamente as reações das pessoas ao mesmo tempo em que estabeleço vínculo de respeito. Me coloco sempre crua e inteira nas ações, dividindo com o público a forma como lido com meu corpo e convido-o a estabelecer relações, sempre por formas de afetos, respeitando também seus espaços. Até hoje não houve nenhum ato que ferisse esse limite do respeito. A energia que meu corpo dispende para cada ação é enorme, as trocas são sempre intensas e procuro respeitar os sinais que meu corpo dá. Chorar, rir, gritar, dançar, são estímulos que frequentemente aparecem no meio das minhas ações como resposta do corpo à troca de energias. A intensidade não pode ser medida entre um indivíduo e outro. o que pode ser muito pra um, pra outro é quase nada. Entretanto raras as vezes em que alguém se afastou das minhas ações ou se negou a dividir as sensações comigo.

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