O artista Gustavo Grazziano participa da exposição DAS ESTRUTURAS MÍNIMAS ÀS NÃO CORES.

Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais  o processo e as referências do artista.

1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?

Costumo inicialmente estabelecer métodos, formatos e materiais para durante um tempo produzir apenas dentro desses limites. Objetivo com esses procedimentos, de antemão definir a maior parte da lógica do trabalho para que durante sua execução possa direcionar toda minha atenção ao momento em que o faço. Esse longo período dentro de aparentes limites acaba me levando a ter uma intimidade com o material e conhecer suas sutilezas.

 

2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

Me interessa bastante encontrar artistas falando sobre seus próprios trabalhos e interesses, mesmo que não reverberem diretamente no que eu faço. Isso me faz entender melhor o que gerou suas produções. Essa lista é bem mutável, mas posso destacar: Bill Viola, Sean Scully, Bashō (poeta japonês do século XII), Mira Schendel, Ad Reinhardt, Agnes Martin, os minimalistas, o grupo Tansaekhawa (grupo de artistas sul-coreanos do século XX) e Paulo Pasta. A dúvida de Cézanne (Merleau-Ponty) e Ver e traçar (Paul Valéry) são textos que já revisitei diversas vezes, por motivo semelhante. Nos dois casos, os filósofos falam sobre o fazer artístico dando grande ênfase ao que levou um trabalho a ser feito de determinada maneira. Continuando na linha teórica, os livros Arte e ilusão e Os usos das imagens (Gombrich) foram leituras que me marcaram por romperem a opacidade da arte.

 

3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

Zen mind, Begginner’s mind (Shunryū Suzuki), Treino e(m) poema (Kazuo Ohno), Buddha mind in contemporary art (Jacquelymn Bass e Mary Jane Jacob) e Smile of the Buddha: Eastern philosophy and western art from Monet to today (Jacquelymn Bass).

 

4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?

Muitas vezes me chama a atenção quando me percebo vivendo no “piloto automático”. Quando, já quase terminando de comer algo, percebo que ainda não tinha notado o sabor da comida em minha boca. Ou quando estou indo para um lugar e no caminho vejo que não pensei nas decisões tomadas para chegar até ali. Da mesma maneira, dou grande valor a ocasionais caminhadas a esmo, pela cidade ou em um parque com mato fechado. Nesses momentos apenas caminho, observando formas, sons, sombras e cheiros ao meu redor.

 

5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?

Continuo focado na série de pinturas brancas em compensado que fizeram parte da exposição Arte Londrina 6: Das estruturas mínimas às não cores. Além delas, comecei alguns testes de pinturas pretas que possuem um resultado e lógica expositiva distinta das pinturas brancas, apesar de serem feitas no mesmo suporte e com um processo semelhante. Elas partiram de uma passagem do livro Em louvor da sombra (Junichiro Tanizaki) em que o autor faz um elogio às tradicionais lacas japonesas e comenta a experiência de ver um trabalho desses a luz de velas. Por fim, estou querendo retomar e finalizar alguns trabalhos de monotipia em papel washi que iniciei no começo do ano passado.

 

6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?

Vejo os sites mais tradicionais, como sites de notícias, revistas, entrevistas e sites voltados à produção artística. Também costumo vagar muito a esmo pela internet a partir de pesquisas suscitadas por leituras. Nisso, acabo refinando a pesquisa em busca de algum texto ou filme, sendo que muitas vezes são nos sites de livraria, com seus sistemas de busca e sugestão, que descubro novos livros e filmes.

 

7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?

Música me influencia muito. Mas, apesar disso, nunca escuto nada enquanto trabalho. Gosto de Steve Reich, Ryuichi Sakamoto, Brian Eno, música eletrônica (como Nicolas Jaar, Burial, Forest Swords, The Field, Holy Other, Jon Hopkins, oOoOO, Balam Acab), violão brasileiro (como Toquinho e os trabalhos para violão do Villa-Lobos), Tadao Sawai e outros músicos ligados aos instrumentos tradicionais japoneses.

 

8 – QUE EXPERIÊNCIAS COM ARTE FORAM IMPORTANTES PARA VOCÊ?

Dentre muitas, assistir aos filmes A viagem do balão vermelho (2007, Hsiao Hsien Hou), Tio boonmee, que pode recordar suas vidas passadas (2010, Apichatpong Weerasethakul) e alguns longas do Wim Wenders – como: Paris, Texas (1984), Asas do desejo (1987) e No decurso do tempo (1976). A dilatação do tempo que sinto neles é algo que venho trabalhando de diferentes maneiras desde o final da minha graduação.

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