A artista Ana Calzavara participa da exposição PAISAGEM: A REPETIÇÃO DO QUE É IMPERMANENTE. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências da artista.

 

1 – Como e quando a paisagem se tornou um conteúdo explorado nos seus trabalhos?

Desde a época da graduação já apresentava um ‘desvio para a paisagem’.

 

2 – A reprodutibilidade da gravura te permite criar paisagens fictícias e estender o tempo das percepções (seus e de quem vê seus trabalhos?), em que sentido esses procedimentos te interessam?

Acho que essa questão de estender o tempo das percepções é uma ‘preocupação’ não só em meu trabalho gráfico, mas em todo ele, pinturas, fotografias e gravuras. Não à toa, o título do meu pós-doutorado que agora desenvolvo, é: A imagem persistente e a contemporaneidade. Como artista visual, é difícil não se indagar sobre a velocidade e banalidade com que lidamos com as imagens atualmente. É algo de nosso tempo e que tende a se agudizar ainda mais. E como artista que lida com imagem gostaria que a imagem que produzo problematizasse isso de algum modo.

 

3 – São evidentes, nos seus trabalhos, o corte, o elemento gráfico, o desenho. Que importância você atribui a estes procedimentos?

O desenho é o meio com o qual estabeleci uma primeira ‘intimidade’.  Hoje, mesmo que não desenhe (no sentido literal) tanto quanto já o fiz no passado, considero que continuo desenhando através de uma prática diária que é a fotografia: a eleição do ‘tema’ a ser fotografado, o como (enquadramento), a luz, tudo isso é também desenho e tenho certeza que meu olhar de hoje é constituído pela experiência anterior de anos com o desenho.

 

4 – Como um trabalho começa?

Às vezes, com um olhar para fora (algo que me move visualmente – na maioria das vezes, algo banal, do cotidiano, uma situação na rua, observando muros, pessoas, luz, cor, planos, cortes, abrir e fechar de portas, chão, etc); outras, com um olhar para dentro (ideias que me movem). Outras vezes também acontece de ser movida por um outro trabalho de arte.

 

5 – Que artistas ou teóricos você considera importantes? Por quê?

Artistas são muitos e distintos: pensando em Brasil, para mim, por exemplo, Volpi é um artista que é importante. Outros mais recentes – Rodrigo Andrade porque discute muitas questões relativas à pintura atual. Tenho gostado muito da produção do Fábio Miguez dos últimos dois, três anos (que inclusive dialoga muito com Volpi) – acho que a pintura dele, com o tempo, ganhou muito em qualidade da superfície pictórica. Paulo Pasta também foi importante para mim (frequentei o ateliê dele logo que saí da graduação). Fora do Brasil. De uns anos para cá, tenho me interessado por Warhol, G. Richter (por essa questão do diálogo com outras fontes de imagens), Kiefer (pela obra gráfica), Tacita Dean. Mas sempre olho também os mais antigos.

Teóricos: Didi-Huberman (há anos lendo-o – mas, em geral, é uma leitura complexa que tenho que ler mais de uma vez). Para as aulas que dou, sempre tenho que ler e reler outros teóricos como Argan, Schapiro, T.J. Clark, Danto, Peter Bürger, Yves-Alain Bois, entre outros.

Não tenho atualmente, com exceção do Didi-Hüberman, uma predileção de um autor. O livro dele “A sobrevivência dos vaga-lumes” é um alento.

Fora do campo do arte, tenho lido um teórico que tem se debruçado sobre a realidade brasileira que é o Jesse Souza. Tenho gostado muito.

 

6 – O que você está lendo?

Sou uma leitora bem louca e contumaz – sempre, sempre lendo – e mais de uma coisa ao mesmo tempo. Agora estou (re)lendo: A forma difícil (Rodrigo Naves); A imagem (Didi-Huberman); Mercado de Arte (org. Angélica de Moraes), Reinvenção da intimidade, do psicanalista Christian Dunker e A elite do atraso (Jessé Souza).

 

7 – Que tipo de coisa chama sua atenção no mundo?

Difícil determinar desse modo – muita coisa, né? Mas acho que, tentando pensar de modo mais geral, acho que aquilo que é pequeno e libertador. Quero dizer, pequeno no sentido de prosaico, nada que quer chamar atenção para si, mas que é libertador. As pequenas coisas, atos, mas que são políticos (no significado mais amplo) e dão autonomia ao sujeito.

 

8 – O que você está produzindo agora?

Pinturas.

 

9–  Que sites você costuma ver?

Não tenho sites regulares que costumo ver – vou pesquisando coisas à medida que o interesse aparece.

 

10 – Que músicas você ouve? 

Nossa, muitas, muitas. Não consigo trabalhar no ateliê sem música. E peço aos amigos músicos e bons ouvintes que me indiquem coisas bacanas. É muito variado – desde erudita até rap.

 

11 –  Que experiência(s) com arte foi importante pra você?

De pequena, tentar pintar uma tela com uma paisagem fictícia onde tinha uma ponte – achei extremamente difícil.

Entrar na graduação em arte – por mais problemas que nela houvesse – foi a primeira experiência regular e contínua com o mundo da arte.

Ter participado da fundação de um ateliê coletivo, um dos primeiros de São Paulo, o Piratininga. O sentido colaborativo e de troca, sonhos conjuntos e muito trabalho será para sempre uma experiência que levarei comigo e que certamente contribuiu para meu amadurecimento como artista.

Ter ganhado uma bolsa de estudos que me possibilitou estudar fora por dois anos. Foi sensacional poder ter acesso diário a acervos com obras que eu só tinha visto em reprodução. Esse contato foi fundamental.

A experiência de dar aula, que me possibilitou entrar em contato com o processo artístico por outro viés.

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