ENTREVISTA COM O ARTISTA EFE GODOY

O artista Efe Godoy participa da exposição PAISAGEM: A REPETIÇÃO DO QUE É IMPERMANENTE. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências do artista.
1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Bem, sou um expedicionário, então recolho coisas, objetos e anotações todo o tempo. Algumas coisas já são, já estão prontas, mas o nascimento de um trabalho pode se dar de várias formas, a que mais uso é ir num antiquário que há aqui em Belo Horizonte no edifício Maleta, lá existe o Seu Sebastião, um acumulador nato de objetorias, alí nascem muitos trabalhos. É sempre uma visita inspiradora, garimpar objetos.
2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
Nossa, tem muitos … eu lí muito quando estava na escola Guignard, mas ultimamente o que tem me instigado são as coisas que o Nuno Ramos escreve, considero ele um grande do nosso tempo, e também o Guto Lacaz que faz de tudo um pouco, artistas que fazem de tudo um pouco me instigam, tem o Marco Paulo Rolla que foi meu professor e hoje é um amigo que me enriquece muito com tudo que faz, uma querida artista e amiga que lança livro essa semana, a Marta Neves, minha madrinha nas artes, a considero muito. Morar em Bh me proporcionou a amizade dessa mulher maravilhosa, enfim, esses são os que me vieram agora à cabeça.
3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
Tenho lido muita poesia, amo. É algo que me alimenta mesmo. Nutre processos e trabalhos. Ainda um dia, pretendo escrever um livro como os que tenho lido. Por agora o que está na minha cabeceira é um livro da Wislawa Szymborska, uma polonesa, linda ela, estava lendo Manoel de Barros, e comecei a ler essa mulher, pensei até que formariam um bom casal, hahahah, mas enfim, indico.
4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Cores, pessoas, objetos, e movimentações mágicas que atravessam meu caminho, acredito que nada é por acaso. Como por exemplo um dia que uma borboleta posou num desenho que eu tinha acabado de fazer, achei muito mágico, sou romântico, E outro dia, enquanto eu olhava pra cima, pro céu, pude observar que um galho seco da árvore estava solto e flutuante, como se pudesse mesmo sobrevoar minha cabeça, de início me perguntei se eu estava sóbrio ou coisa assim. A imagem de um galho de árvore que flutua sozinho me deixou um bom tempo perplexo. Foi então que reparei que um fio de algum material meio transparente, uma linha muito fina, estava entrelaçada à arvore que entrelaçava o pequeno galho flutuante, muito mágico. A árvore estava pendente para a rua, e pra eu ficar observando bem debaixo, meu corpo todo só poderia se encaixar exatamente no meio da rua, neste dia quase fui atropelado, quase sempre acontece de ser quase atropelado, me perco olhando cada coisa que aparece do meu lado. Ou seja, muitas coisas me prendem a atenção nesse mundo, sobretudo o que é naturalmente mágico.
5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Estou fazendo uns desenhos grandes, na verdade continuam pequenos, mas numa superfície maior do que as que estou acostumado. São anotações de lembrança de sonhos, uma pesquisa que ainda se desenvolve. Os sonhos tem me influenciado muito, em tudo que venho fazendo.
Além disso vou participar duma exposiçãoo que abriu ontem aqui em BH, AMADEO LORENZATO, um artista/pintor já falecido que deixou um grande acervo de pinturas simples e singulares, sou muito fã, e fui convidado para a realização de uma performance/ação na qual vou reconstruir um triciclo meio zepellin que foi transporte do artista para uma expedição. Estou bem empolgado com este projeto.
6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?
Recentemente criei junto da minha companheira de vida um site/lojinha serimaginario.com.br então entro muito nele pra alimentar e ver tudo que acontece, mas costumo também pesquisar livros em vários sites, e também pesquisa de editais para as artes, entro muito no mapa das artes e na plataforma emerge.
7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?
Muitaaaas, gosto muito de ouvir Chopin pra trabalhar, agora agora estava escutando Letrux, sou apaixonado nela, e o novinho Dedé Santaklaus <3
8 – QUE EXPERIÊNCIAS COM ARTE FORAM IMPORTANTES PARA VOCÊ?
Entrar para a universidade de Arte aqui em BH, foi bem transformador, não conhecia realmente nada, vim de uma cidade do interior e por lá arte são apenas pintura e desenho, descobrir a performance é algo que com certeza atravessou meu caminho e mudou tudo. Trabalhei também 2 anos no INHOTM o que me transformou como pessoa e artista. A residência do BOLSA PAMPULHA, e uma viagem que fiz para o interior de minas onde há uma residência que se chama MUTUCA foi também uma grande experiência para minha vida de artista. Aconselho procurar saber mais sobre esse lugar: residenciaram.wordpress.com
9 – É PERCEPTÍVEL QUE SEUS TRABALHOS TÊM UMA GRANDE RELAÇÃO COM A NATUREZA, ALÉM DO RESULTADO, COMO É ESSA RELAÇÃO NO SEU DIA-A-DIA? E NO SEU PROCESSO DE CRIAÇÃO?
Olha, tento sempre me equilibrar com tudo, sabe? Sou de sagitário e me dou bem com tudo e todos, isso influencia diretamente no meu contato com natureza e seus viventes, me sinto parte, tão parte que as vezes me coloco num lugar de comunicador de algumas coisas que escrevo ou descrevo em imagens, pode parecer estranho mas sinto muito forte essa ligação, sempre me comunico com plantas, conversando mesmo, de forma telepática ou usando a fala oral. Sei que podemos nos comunicar com as espécies, e isso é de extrema importância no meu trabalho. rego as plantas pela manhã e costumo fazer isso pelado, onde a comunicação se da mais direta.
10 – COMO O COTIDIANO INFLUENCIA EM SEU TRABALHO?
Vivo do que faço e faço o que faço como missão de vida nesse planeta, anotar sonhos, recolher objetos que contam histórias já se tornou um hábito que alimenta minha produção, é um processo muito intuitivo, mas que consigo encontrar uma narrativa forte conduzida pela afetividade e memória que estão em tudo, todo o tempo. Até aqui mesmo nessa conversa.
11 – QUAL A RELAÇÃO QUE VOCÊ VÊ ENTRE PAISAGEM, TEMA QUE A EXPOSIÇÃO ABORDA, E SEUS TRABALHOS?
Fiquei surpreso com o convite quando fiquei sabendo do tema, mas aos poucos fui percebendo que na amplitude da palavra PAISAGEM existem muitos elementos que servem como ponte e me dão passagem direta a PAISAGEM um exemplo é a definição da palavra no dicionário online numa busca rápida: paisagem substantivo feminino 1. extensão de território que o olhar alcança num lance; vista, panorama. “do alto, essa p. é mais bonita” 2. conjunto de componentes naturais ou não de um espaço externo que pode ser apreendido pelo olhar. Meus trabalhos sempre estão mostrando objetos que flutuam em companhia com outros, e isso vai construindo ou desconstruindo a paisagem em sua subjetividade. É possível, foi o que pensei quando o convite veio, é possível me encaixar nesse tema, sim, é possível. Agradeço muito o convite, pelo simples fato de ter aumentado minhas possibilidades de existir.
12 – O QUE É PAISAGEM PARA VOCÊ?
PAISAGEM, num primeiro fragmento da palavra: PAIS – AGEM (eu gosto de brincar de palavras frásicas) isso pode lhe dizer alguma coisa, como pode não significar nada, hehe, paisagem é tudo aquilo que eu recorto com meu olhar e gasto um tempo no observar, crio ponto de fuga e vou, vou, vou, indo, indo, até se perder na floresta das coisas, é também a natureza, natureza de tudo, quando falam de paisagem pra mim a primeira imagem que vem é natureza, em casa crio várias delas, organizar as plantas num lugarzinho por exemplo, são várias as formas, criamos muito disso, você também cria o tempo todo, somos multiplicadores de paisagens desde que aprendemos a brincar com nossos brinquedos na infância, enfim, é amplo, tão amplo que não consigo definir ou cercar, hoje pela manhã um vaso de plantas que caiu no corredor depois das escadas me tocou profundamente, me trouxe um dilema, gostar ou gostar daquilo, limpar ou não limpar a beleza do acaso? Fiquei um tempo parado contemplando, é isso, se você contempla, pode ser que seja uma paisagem.