O artista João Paulo Queiroz participa da exposição PAISAGEM: A REPETIÇÃO DO QUE É IMPERMANENTE. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências do artista.

 

I – Observando seu trabalho exposto na Dap, “Entre a Terra e o Céu”, desenvolvido entre 23 e 31 de agosto de 2013, me interessam, para além da relação com a contemplação e a paisagem, a repetição e as datas (pois são coisas que replico nos meus trabalhos como artista e professora em formação, por exemplo). Pesquisei sobre sua carreira e seus trabalhos, e numa matéria que encontrei no site da Faculdade de Belas artes de Lisboa, vi que é um trabalho desenvolvido desde 2005. Tendo isso em vista, de onde vem o seu interesse pela exploração da representação de um mesmo espaço (paisagem), e qual a importância também de datar as pinturas?

Sim, é um série que começa em 2005, por se referir ao mesmo terreno, explorado todos os anos. É um terreno com árvores típicas do mediterrâneo: azinheira, sobreiro, oliveira. É perto de Fátima, em Portugal. Costumo assinalar o dia mês ano, tanto nestes como noutros trabalhos. Como os trabalhos são feitos no terreno, ao vivo, a sua data é importante, pois é um pouco uma vivência partilhada, o estar, ver, pintar, mostrar, partilhar.

 

II – Além disso, pensando no seu processo criativo e nessa relação com a natureza, mas pensando também na sua carreira como professor e pesquisador, gostaríamos de saber que tipo de contaminação você deseja que atinja o público que entrar em contato com seu trabalho?

Creio que faz sentido conhecer-se o trabalho como pintor, ao mesmo tempo que desenvolvo outras propostas pedagógicas e acadêmicas variadas. Será muito importante que o que é presente junto dos colegas, artistas, acadêmicos, e dos alunos, de vários níveis e Faculdades, possa ser confrontado com o trabalho plástico, artístico, no sentido em que um dos dois trabalhos confere mais seriedade e profundidade ao outro. Talvez aumente as possibilidades de conhecimento.

 

III – Sua trajetória profissional lhe posiciona em diversos lugares sociais: o artista, o professor, o pesquisador, o editor etc. Desses lugares você traz à tona não apenas sua produção artística, mas também discussões que vão desde a pesquisa sobre o livro de artista, passando sobre os novos paradigmas do discurso artístico, ou ainda sobre arte e educação no contexto português. Percebendo os caminhos que você percorre, gostaríamos de saber como se dá, para você, esse movimento que acontece na relação do artista-professor-pesquisador, como alguém que pensa constantemente na produção e compartilhamento.

Será um dos aspectos da disseminação, em que a produção artística passa a ser encarada como um dos canais de debate e de possibilidade de argumentação e também de educação artística. Aqui é percebido um terreno de implicação do artista professor, um espaço que deve ser assumido por mim. Tudo somado no que participo, são criadas condições para mais participação, publicação, comunicação, conhecimento, através de fóruns como os congressos internacionais, as revistas acadêmicas, as palestras. Nesse ponto a minha atividade artística, embora esta seja densa (mais de 100 trabalhos por ano), é apenas um dos componentes de tudo isso.

 

ENVIAMOS TAMBÉM PARA O ARTISTA ALGUMAS PERGUNTAS PADRÕES PARA CONHECERMOS MELHOR O SEU TRABALHO:

1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?

Esses trabalhos começam de modo sistemático, com a viagem, a deslocação ao terreno, a dedicação de vários dias a trabalhar sem descanso, de manhã à noite. Preciso de guardar umas semanas só para os trabalhos, por ano, em exclusividade. É também um trabalho solitário. Esta série é feita de séries anuais. Cada ano adiciono mais uns 50 a 100 trabalhos. Assim a série contará já com uns 600 ou mais.

2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

Artistas, acho que gosto de todos, estando mais próximo dos que se aproximam do terreno, ou que procuram coisas escondidas. Corot é um bom exemplo, como depois os paisagistas mais obstinados, como Van Gogh. Essa obstinação é uma lição. Acho que a pintura está muito longe de ter sido esgotada, e que a velocidade das vanguardas transmitiu algum esgotamento antes do tempo: há muita coisa por fazer, ainda. Sinto que aí há coisas a fazer, e faço-as.

3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO? 

Ensaio, li Slavoj Zizek, “lacrimae rerum”. Romance, li “Budapeste”, de Chico Buarque. Um diário de viagem de Lewis Carroll, pela Europa do início do século XX. Tudo em e-book, um aparelho portátil, bem útil.

4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?

Muita pressa, há muita pressa para cuidar do que tem de ser cuidado, seja na vida pessoal, familiar, seja nos termos mais alargados de um país ou do mundo. Como o coelho de Alice: “estou atrasado”.

5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?

Continuarei produzindo as séries de trabalhos, como artista, cada ano mais um centena de trabalhos, feitos no terreno, espero.

6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?

Notícias, informação, fontes acadêmicas…

7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?

Gostei de ouvir Zelia Duncan, por exemplo, há pouco tempo.

 

8 – QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?

Ver, ao vivo, boas exposições, bons museus. Exposição de Morandi em Porto Alegre, no Museu Iberê, foi marcante, há uns 4 anos. Espero que esse museu magnífico reencontre o seu rumo.

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

You may use these HTML tags and attributes:

<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>