O artista Sergio Borghi participa da exposição ARTE LONDRINA 5 – AS COISAS SE ESCORAM TORTAS. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências do artista.

 

1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?

Com um incômodo ou ao simples acaso. Muitos trabalhos são difíceis de chegar ao conceito que se deseja desenvolver, tornando a execução muito bem direcionada, ao mesmo tempo que outros se esclarecem rapidamente e é na execução em que nos confrontamos.

 

2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

O movimento que mais atrai a minha atenção é o Concretismo brasileiro da metade do século XX. Talvez seja por sua ligação com elementos do design — e por influenciar e ser influenciado pelos movimentos do design da época. Bem, dele surgiram artistas e teóricos responsáveis por grandes trabalhos como os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Julio Plaza. Suas contribuições não se continham ao campo das artes plásticas e sempre quiseram esclarecer o que pensavam, possuindo um veio acadêmico muito forte que se desenvolveu principalmente nas teorias linguísticas.

O que admiro neste movimento, em especial, é o papel da tipografia. Ela é utilizada à exaustão, seja em formas lineares e sintéticas até complexas e contrastantes, sempre buscando exprimir um conceito de modo direto e incisivo.

Caixa Preta, 1975, de Julio Plaza e Augusto de Campos.

 

3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

Iniciei há pouco a leitura de Vida, de Paulo Leminski.

 

4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?

Dentro do que tenho contato, o cotidiano é o que me chama mais a atenção. Por mais que eu não consiga viver sem uma rotina, gosto de ter pequenas variações de tempos em tempos para procurar perceber de outra forma o que, de algum modo, se tornou comum. Sinto que me impressiono muito menos com coisas sintéticas (arquitetura, tecnologia etc.) do que com o natural. Sempre se descobre algo novo ao olhar de perto padrões da natureza, por exemplo.

 

5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?

Atualmente estou trabalhando em um fotolivro que resgata fotos de álbuns antigos da minha família, enfatizando não o familiar, mas os sujeitos alheios e desconhecidos que são registrados ao acaso.

 

6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?

Em relação ao que busco de referências, concentro-me principalmente no Behance, uma plataforma de portfólios online, além de outros sites com foco em design. Minhas buscas dependem muito do projeto em que estou trabalhando. Normalmente começo com algo amplo e deste vou traçando meus objetivos.

 

7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?

Gosto especialmente de artistas que exploram limites, seja pela voz, uso dos instrumentos ou técnicas diversas. Recentemente, tenho ouvido Janis Joplin, Elza Soares, Nina Simone e Billie Holiday. Os Mutantes sempre foram bem sucedidos na variedade de técnicas, acho que o melhor exemplo é a música “Dia 36” que mostra, entre outros, equipamentos desenvolvidos pela própria banda e sua equipe.

Billie Holiday – Lady Sings the Blues.

Os Mutantes – Dia 36.

 

8 – QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?

Lembro que uma das primeiras obras que me chamou a atenção a ponto de explorá-la foi a tela Vários Círculos, de Kandinsky. Acredito que foi o primeiro livro de arte que comprei, uma compilação dos trabalhos do artista. Mesmo uma reprodução impressa desta obra foi capaz de fazer com que eu prestasse atenção, por um bom tempo, em cada uma das formas, suas suaves intersecções, cores e principalmente a transparência da técnica.

Vários Círculos, 1928, de Wassily Kandinsky.

Bem, acredito que de qualquer contato que temos com um objeto de arte – seja uma reprodução, uma instalação dentro de uma galeria ou uma intervenção urbana mínima em tamanho – saímos com um saldo maior do que no momento anterior. Toda arte, em seu propósito, nos faz questionar. Questionamos o seu tema ou até mesmo o que o conceito de arte significa para nós, e isso é muito enriquecedor. Apenas precisamos ficar atentos para não fugirmos desse questionamento.

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