A artista Manuela Costalima participa da exposição ARTE LONDRINA 5 – PELA ESTRADA E FORA. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências da artista. 

 

1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA? 

Às vezes começa com uma palavra, outras com um objeto de uso cotidiano que me intriga, mas na maioria das vezes começa com uma caminhada pela cidade. Percorrer o espaço urbano e olhar para ele atentamente é uma grande fonte inspiração para mim.

 

2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

São muito importantes para mim os artistas minimalistas e grande parte do que surgiu após eles. Me interessa a obra de Richard Serra (em especial os trabalhos mais antigos na cidade), e a maior parte da Arte Povera, principalmente o trabalho do Jannis Kounellis. Joseph Beuys também é uma referência importante no meu trabalho. Todos esses artistas me ensinam muito sobre espaço e materialidade. Há pouco conheci o trabalho de Cerith Wyn Evans e estou muito impressionada pela maneira como ele consegue conjugar narrativas, ocupação espacial e uso do som de maneira tão simples e potente.

Ampliando um pouco o campo de referências, é fundamental para mim toda a obra do Eduardo Coutinho. Ele consegue olhar para o outro de maneira realmente democrática, transparecendo em seus filmes personalidades múltiplas e interessantes, sem nunca ser piegas. Ver os filmes dele é uma coisa que sempre me inspira.

 

3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO? 

Há pouco li Mr. Gwyn do Alessandro Baricco, sobre um escritor em crise criativa à procura de um lugar específico que propicie um recomeço como artista. Veio a calhar com esse meu momento de busca de um novo espaço para desenvolver meus trabalhos, além de ser um texto muito divertido.

Na fila de leitura estão: Rebecca Solnit – Hope in the dark, e Confabulations do John Berger.

Em leitura: alguns livros do Frei Ignacio Larrañaga, que vem me acompanhando desde o começo do ano, Contos de Kolimá, de Varlam Chalámov, Relatos de um Peregrino Russo, e a Bíblia, leitura de todos os dias.

 

4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO? 

Gosto de prestar atenção em alguns detalhes da cidade que muitas vezes passam batido quando estamos com pressa. Para isso preciso estar à pé. Caminhando sem pressa sempre descubro cidades à margem daquela onde vivo.

 

5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA? 

Acabo de me mudar para um ateliê no Brás e isso tem tido uma grande influência no que ando pensando recentemente. Depois de um tempo interessada num fazer mais introspectivo, meu trabalho olha de novo para fora. Ando mais uma vez fascinada pelas identidades próprias de cada lugar, especialmente deste lugar tão rico em relações humanas e espaciais que é o Brás. Partindo dessas experiências estou iniciando uma nova produção.

 

6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER? 

Tenho visitado poucos sites ultimamente. Ando mais interessada em estar em sítios reais. A enxurrada de informações disponíveis online me perturba e me dispersa. Por isso, tenho buscado encontrar mais momentos de silêncio e concentração.

 

7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE? 

Gosto muito de música folk, especialmente daquelas cantadas em línguas que não compreendo. Descobri há pouco uma releitura contemporânea das 4 estações de Vilvaldi pelo Max Richter que tenho escutado muito. Ultimamente tenho ouvido também bastante Arrocha – toca o dia todo no cabeleireiro vizinho ao meu ateliê.

 

8 – QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ? 

Nunca vou me esquecer de quando visitei pela primeira vez a instalação sonora de Janet Cardiff no Inhotim [Forty Part Motet, 2001]. Num primeiro momento encontrei na sala expositiva um conjunto de caixas de som comuns sobre tripés e não havia nada que as distinguisse umas das outras, apesar do seu arranjo curioso em linha oval. A sala estava em completo silêncio. De repente ecoou uma tosse ali, um suspiro aqui, uma afinada de voz mais adiante. O trabalho então se revelou quando o coral começou a cantar essa música polifônica [Spem in Alium], em que camadas de vozes se sobrepõe e se alternam, evoluindo numa explosão sonora. O som preenchia o espaço e me convidava a percorrê-lo, acompanhando as vozes que apareciam e sumiam nas caixas.

Saí de lá com vontade de incorporar o som aos meus trabalhos. Percebi naquela experiência a possibilidade poética que existe no uso do som nas artes visuais.

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