ENTREVISTA COM A ARTISTA FERNANDA ANDRADE
A artista Fernanda Andrade participa da exposição ARTE LONDRINA 5 – PELA ESTRADA E FORA. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências da artista.
1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?
De diversas maneiras. Muitas vezes percebo que algo específico me estimulou a começar um trabalho; outras vezes acontece de maneira mais subjetiva, uma curiosidade me leva a mexer na coisa, sem um objetivo pré-definido. Nos dois casos, estes estímulos vêm de coisas simples, detalhes até, que acabam revelando uma complexidade que só descubro com o fazer, com a investigação prática, no processo. Então, quando se concretiza algo imaginado, a imagem e/ou objeto ‘responde’ e determina os passos seguintes, e o próprio trabalho passa a servir de estímulo.
2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
Artistas contemporâneos de modo geral, porém dedico atenção especial à produção de artistas sul-americanos, principalmente do Brasil. Existe uma diversidade enorme de atuações importantes. Na rua: trabalhando muitas vezes além das fronteiras institucionais estão os artistas que realizam intervenções em espaços públicos, ampliando o público e as possibilidades de atuação. Inúmeros coletivos de intervenções se formaram pelo país, dos quais posso citar como exemplo o GIA e o Opavivará. Outra produção importante que acompanho é a de instalações. Rivane Neuenschwander, Cinthia Marcelle, Renata Lucas e Fernanda Gomes são mestras. Além de forte carga conceitual, me interessa a utilização de materiais e situações triviais e a incorporação do espaço expositivo como parte integrante da obra. No trabalho do super jovem Jonathas de Andrade, da colombiana Doris Salcedo e do chileno Alfredo Jaar, me interessa a articulação de questões diretamente políticas e ligadas à representatividade. Admiro também a leveza e humor sutil do argentino Jorge Macchi. Também não posso deixar de citar Cildo Meireles.
3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
O destino das imagens, de Jacques Rancière, Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Prandi, e revistas sempre.
4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Tenho curiosidade sobre como certas dinâmicas se estabelecem. Em grandes centros urbanos, como no Rio de Janeiro, é possível perceber diversas formas de ordenação de espaços públicos, o que determina trajetos e condiciona movimentos, por exemplo. Vejo esta ordenação dos espaços públicos como análoga à construção de um senso comum (ou normatividades) através de estruturas de ordem imateriais que influenciam a construção de subjetividades, condicionando comportamentos e pensamentos. Então, me interessa trabalhar com objetos e situações cotidianas, pois vejo nas coisas comuns e compartilhadas a capacidade de acessar este lugar mais íntimo, de construção de sujeitos e perspectivas, através da possibilidade de reconhecimento. Interferindo, deslocando e subvertendo usos, busco provocar a percepção sobre algo reconhecível para desequilibrar esta domesticação. Procuro me manter sempre atenta ao presente, no aqui e agora, e olhar para tudo como se fosse primeira vez.
5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Costumo a desenvolver vários trabalhos simultaneamente. No momento estou produzindo/investigando um lambe-lambe, um projeto de fotografia e uma intervenção para uma praça no Rio.
6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?
Muitos. Uso redes sociais, principalmente o Instagram, e acesso revistas e páginas de notícias, principalmente as de arte, como Select e E-Flux. Pesquiso bastante no Google também, textos e imagens.
7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?
Escuto música diariamente, e sou bastante eclética. Gosto muito de música brasileira, de João Gilberto a Raul Seixas, samba, forró, manguebeat, tudo. Rock novo e velho, muito reggae, alguma coisa de rap e eletrônica também. Adoro descobrir coisas novas pelos algoritmos do YouTube.
8 – QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?
Tenho experiências importantes com arte constantemente. O próprio trabalho com arte me oferece experiências importantes. Uma coisa que já aconteceu algumas vezes, e que é um ótimo aprendizado, é o poder da intuição. Muitas vezes as escolhas feitas num trabalho são mesmo intuitivas: estão mais próximas de uma sensibilidade do que de um raciocínio que segue uma sequência lógica. Na minha prática, lido sempre com escolhas intuitivas aliadas a escolhas absolutamente conscientes. E mais interessante disso é que a intuição sempre mostra sua força, pois continuando a produção e pesquisa, encontro consonância com teorias e com o trabalho de outros artistas. Isso é lindo! É como se a arte afirmasse a todo tempo que temos tudo que precisamos em nós mesmos e que a sensibilidade é uma ótima maneira de lidar com as coisas do mundo, basta ter respeito a si próprio. Isto é um aprendizado constante, e que levo para vida como um todo.