A artista Yasmin Kozak participa da exposição ARTE LONDRINA 5 – O TEU CORPO É LUTA. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências da artista.

 

1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?

Achei esta pergunta um pouco complexa de responder. Não sei se dá para definir com clareza um começo, meio e fim de um trabalho. Geralmente acontece com uma junção de fatores, pode ser algo que estou vivenciando no momento, algo que observei, ouvi, que li, referências de artistas que vi recentemente ou que ressurgiram depois de algum tempo. Minhas pesquisas geralmente são continuadas, embora tenha trabalhos que pareçam muito diferentes uns dos outros, eles possuem um fio condutor que os une, o que pra mim torna um pouco difícil às vezes de enxergar quando um trabalho começa e outro acaba, pois tudo parece uma continuação de algo que já produzi.

 

2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

Bem, há um leque muito grande de artistas. Gosto muito de descobrir artistas que antes não conhecia, artistas que estão começando sua produção agora também, assim como eu. Minhas referências variam. Para este trabalho que estarei expondo na DaP, eu posso citar como maiores referências duas artistas e ex-professoras do Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná: Consuelo Schlichta que, inclusive, foi professora minha, e Marília Diaz. Ambas realizaram, em parceria, a exposição “O Céu pelo avesso ou sobre todas as outras que habitam em mim”, que ocorreu em 2015 no Museu de Artes da Universidade Federal do Paraná (MUSA), cujos trabalhos falavam do feminino de uma maneira bastante forte e intimista.

Recentemente eu tenho visto artistas contemporâneas que trabalham com ações urbanas: Eleonora Fabião, que tem um trabalho que gosto muito chamado “Converso sobre qualquer assunto”, Ana Teixeira, cujos trabalhos acontecem também na rua a partir de relações que ela estabelece com os passantes e Tania Alice. Tenho um interesse por trabalhos que visam esta aproximação com o outro e causam uma desestabilização dentro do contexto da cidade e no dia-a-dia de seus habitantes.

 

3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

Eu acabei de terminar “Novas Derivas”, de Jacopo Crivelli Visconti e estou relendo “Arte contemporânea: uma história concisa”, de Michael Archer.

 

4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?

Acredito que as relações humanas, o modo como as pessoas têm encarado a diversidade, seja de uma forma positiva ou negativa. Chama-me atenção tanto um “bom-dia” dado a um desconhecido, quanto à intolerância que estamos presenciando atualmente, as contradições do ser humano de amar e odiar ao mesmo tempo, que me despertam reações das mais variadas.

 

5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?

Atualmente estou realizando dois projetos que buscam estabelecer possíveis relações entre o meu corpo e o corpo do outro, que é totalmente estranho para mim; como uma forma de aproximar-me deste outro e de possibilitar também que este outro possa estabelecer contato com pessoas as quais também não conhece. Gosto de lidar com esta ideia de aproximação e distanciamento e, principalmente, lidar com o lado afetivo e emocional das pessoas, é o que estou fazendo no projeto que chamei de “Habitar em mim”, que pode ser visto em meu site.

São formas que eu encontro de causar, quem sabe, pequenas rachaduras nestes muros que nós construímos em torno de nós mesmos e que nos impedem muitas vezes de conhecer aquele outro que, em uma primeira impressão, parece ser tão diferente de nós, mas que, após algumas descobertas, nos demonstra ter muitas semelhanças conosco.

 

6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?

Bem, o único site que eu costumo olhar com frequência é o Mapa das Artes. Eu costumo mais usar Google e o Youtube  para conhecer novos artistas e muitas vezes acabo me perdendo: um artista me leva a conhecer outro artista, que me leva a outro artista e assim sucessivamente.

 

7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?

O que eu mais ouço é MPB, cresci ouvindo Elis Regina e Milton Nascimento, sou apaixonada também por Chico Buarque. Gosto muito também desta nova geração da MPB, como Léo Fressato e Ana Larousse, mas ouço também outros tipos de música, principalmente rock dos anos 60, gosto muito.

 

8 – QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?

Nossa, foram tantas. Eu acho que muitas das coisas que eu passei, vi e vivenciei acabaram sendo importantes para mim, pois contribuíram e estão contribuindo, de alguma forma, para as minhas produções. Há, contudo, uma que acredito que seja muito importante citar, já que poderia se dizer que ela que marcou o início de minha trajetória.  Quando entrei para o curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Paraná eu ainda não fazia ideia do que se tratava o curso e muito menos da minha linha de pesquisa.  Durante um dos primeiros dias de aula que tive ainda como caloura, um de meus professores, que admiro muito, Paulo Roberto de Oliveira Reis, em sua aula de Metodologia de Pesquisa em Artes I, apresentou uma das instruções de performance da Yoko Ono, chamada Peça de Nuvens:

 

Imagine as nuvens caindo gota a gota

Cave um buraco no jardim

Para colocá-las

 

Começamos a discutir as dimensões poéticas daquela proposta, cujo encanto estava justamente na impossibilidade da concretização da ação, que só aconteceria como imagem mentalizada.

Eu sempre tive uma relação muito próxima com a escrita e, ao ler aquela proposta, comecei a repensar de que forma eu poderia articular ambas as linguagens: a visual e a verbal, algo que passou a percorrer alguns de meus trabalhos.

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