O  artista Rodrigo D’Alcântara participa da exposição ARTE LONDRINA 5 – O TEU CORPO É LUTA. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências do artista.

 

1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?

Não existe exatamente uma fórmula. Geralmente busco ficar atento às coisas que me orbitam como artista, questões que me motivam e instigam. Tenho uma pasta no computador que guardo algumas imagens, fragmentos e referências visuais e vou separando conforme meus interesses de criação da época. Não quer dizer que tudo que eu guarde derive em trabalhos, pelo contrário, é mais uma maneira de enxergar a pesquisa em aberto. Além disso, possuo diversos caderninhos que anoto processos criativos e faço rascunhos, a partir daí e do próprio processo de feitura e pesquisa de materiais para os trabalhos as obras vão desabrochando.

 

2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?

Acho que é algo que vai mudando com o tempo, não considero tão fixo. Atualmente tenho gostado muito de pesquisar sobre o Francis Alys, por ser um artista que integra sua pesquisa em vários suportes de maneira concisa e acho que tem um aporte muito sensível na entrega de suas obras para o mundo.  Karina Dias e Elder Rocha ficam guardadinhos como referências por terem sido importantíssimos no meu desenvolvimento na graduação. Tendo sido a Karina minha querida orientadora também. O Leonilson, vira e mexe, ressurge como um sopro de inspiração, sendo um artista gay de extrema importância em minha trajetória. Considero importantes várias artistas que de alguma forma abriram e abrem caminhos para que artistas LGBTs e mulheres alcem voo.

 

3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?

O Ar e os sonhos do Bachelard, Todos os Contos da Clarice Lispector, ATLAS da imaginação e do corpo do Gonçalo Tavares. Leio várias coisas ao mesmo tempo e sem muita linearidade. Comecei a reler também Teoria da Viagem do Michel Onfray Tentativas de Capturar o AR do Flávio Izhaki e iniciei O Sabá do Sertão da Carolina Rocha há pouco tempo. As leituras se cruzam entre coisas para o mestrado que estou fazendo na UFRJ (em Poéticas Interdisciplinares), material do estágio de docência e vontades pessoais mais soltas.

 

4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?

Em geral coisas que me mantém vivo, nas quais eu enxergue emoção, empatia e afeto. A força feminina, das manas da comunidade LGBT, das redes de amizade. Acredito que onde eu sinta movimento, pulsação em geral, sinto atração. A contemplação da paisagem sempre foi algo que me chamou atenção também. Desde pequeno viajo muito por ser filho de uma turismóloga. Os deslocamentos provenientes das viagens me fazem perceber outra lógica de mundo que me motiva bastante.

 

5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?

Tenho feito trabalhos em diversos suportes e meios em torno da pesquisa sobre o risco e a alegoria, que tem sido desenvolvida no mestrado. Uma das frentes de trabalho é uma série de pinturas intitulada ‘Procedimentos’, na qual exploro a re-contextualização de imagens desconcertantes de cartões de segurança de bordo, retirados de aviões. Também venho trabalhando numa série de objetos em que me guio principalmente pelo arco-íris como um ícone de ocupação duma espacialidade aérea temporária e dos corpos à margem/cadentes. Além de alguns vídeos e outros objetos que conversam com esse arcabouço que venho criando entre o risco e o alegórico.

 

6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?

Sites de compartilhamento de imagens e textos, de acervo de inventariado de veículos aéreos, de música e sobre música, além de redes sociais em geral.

 

7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?

Escuto de tudo um pouco, mesmo. Tem um tempo já que tenho escutado muito R&B “alternativo” como: Kelela, Junglepussy, FKA Twigs, Blood Orange, Solange e artistas queer como LE1F e Jaloo. Bandas e artistas que escutei no decorrer da minha adolescência e continuo até hoje são: Spoon, Garbage, Norah Jones, Vanessa da Mata, Céu, Jorge Ben Jor, Clara Nunes e por aí vai. Mas escuto muito pop também, acho essencial uma boa Rihanna, Lady Gaga e Beyoncé sim. Além de funk carioca que é o tipo de música que mais me faz dançar confortável em mim.

 

8 – QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?

De 2013 para 2014 encabecei um projeto de ateliê coletivo em Brasília. O local se chamava Quina e foi dividido com mais quatro, artistas por um período de seis meses. Aprendi muito no processo de partilhar a rotina de pesquisa e produção artísticas e tivemos alguns desafios na convivência, que ao fim foi algo muito enriquecedor. A Bia Leite e o Hermano Luz, dois dos artistas que dividiram esse espaço, seguem muito presentes em minha vida, e acabamos criando uma rede de amizade que também rende frutos profissionais até hoje.

Em 2016 fiz a minha primeira residência artística, pelo Museu do Sexo Hilda Furacão. Localizada no quadrilátero de Guaicurus em BH, um dos maiores complexos de prostituição latino-americanos. Foi uma experiência artística que criou uma nova camada de vivência na minha vida, ultrapassando questões da arte. O coordenador da residência era extremamente escroto e assim várias partes do processo se tornaram dificuldades. Apesar disso, habitando um dos quartos e convivendo diariamente com incríveis prostitutas e pessoas LGBT e suas estórias de situações de risco constante, me fizeram rever meus privilégios e também me conectar fortemente com o que é ser bicha nessas condições. Pessoas como Ventura Profana, Melke e as manas do coletivo Coiote me fortaleceram extremamente e são inspirações para além das artes, por fazerem arte de forma visceral, vivencial e trans-gressoras de fato.

Enfim, acredito que todas as experiências em arte que foram e são importantes para mim envolvem uma empatia e uma lógica relacional. A troca de conhecimento e pessoalidades é o que me motiva a seguir produzindo.

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

You may use these HTML tags and attributes:

<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>