ENTREVISTA COM A ARTISTA ANA CALZAVARA
A artista Ana Calzavara participa da exposição ARTE LONDRINA 4 – TEMPORALIDADES, SOBREPOSIÇÕES E APAGAMENTOS. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências da artista.
1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Um trabalho começa andando na rua, olhando para o mundo, olhando para meus trabalhos anteriores, olhando para trabalhos de outros artistas de outras épocas e da atualidade. Vem de um “estar-no-mundo-como-um todo” olhando, cheirando, ouvindo, lendo, medindo, relacionando, tateando, sentindo, pensando. Em outras palavras, dessa relação e experiência com o mundo e as pessoas, e do desejo de expressar-me.
2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
Isso é bem variado. Tem alguns artistas que me acompanham sempre, digamos assim, outros que vem, chegam, ficam durante um tempo, depois se afastam, às vezes voltam novamente e assim por diante. Ultimamente tenho olhado muito para artistas que lidam, de algum modo, com a ideia da repetição. Cinema também tem sido uma fonte visual forte para mim.
Em relação à teoria, nos últimos tempos tenho lido teóricos que se reportam à segunda metade da década do séc. XX, como A. Danto e H. Foster. Mas no momento, estou debruçada sobre um teórico chamado J. Crary, que se indaga sobre os mecanismos da percepção a partir da Modernidade, coisa que tem me interessado. Gosto muito também do T. J. Clark.
3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
Como também dou aula, a leitura é algo constante e ininterrupto. Sempre estamos às voltas com autores e assuntos que são discutidos durante as conversas e conteúdos vistos nos cursos. Muitas vezes somos levados a descobertas de autores e artistas que não conhecíamos através desse processo, o que acho muito prazeroso. Lecionar, assim como produzir no ateliê, é um caminho de descoberta. Mas nesse momento, como disse, estou lendo o Crary, Suspensões da Percepção – Atenção, Espetáculo e Cultura Moderna que me interessa particularmente por questões de meu próprio trabalho. Mas em geral tenho ao lado um livro de ficção, fundamental para alimentar a alma, digamos assim.
4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Ah, isso também é muito variado. Claro, imagino que tenha uma atenção para aspectos que ser relacionam à visualidade do mundo – cores, planos, distâncias, isso sempre me fascina e acho que sempre estou, de certo modo, sempre atenta a esse tipo de coisa. Além disso, obras – livros, música, e, sobretudo, filmes. Gosto muito. Acredito também que a questão do tempo é algo que está sempre presente tanto no que observo, como em minha produção. Mas talvez tudo isso vise, em última instância, uma possibilidade de se comunicar com o outro, é a relação do homem para o homem.
5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Pinturas novas – estou desenvolvendo séries de pinturas que dialogam com a imagem impressa (gravura) e a fotografia.
6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?
Utilizo a internet mais como instrumento de pesquisa para aulas que dou e para interesse pessoal. Como pesquisa para meu trabalho como artista, menos. Só quando estou em busca de uma imagem ou artista específicos.
7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?
Muito variado o repertório! Desde Cartola, Nelson Cavaquinho, MPB, música popular brasileira recente, passando pelos clássicos, jazz, rock, música pop contemporânea de outros países. Adoro música e em geral trabalho ouvindo-a.
8 – QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?
Muitas. A experiência, logo que me formei, de ajudar a fundar e trabalhar em um ateliê coletivo, como foi o Piratininga (1993-1996); a experiência de ter vivido fora do País com um Bolsa que me possibilitava trabalhar ininterruptamente durante 2 anos e que também me deu acesso a conviver com obras (museus, galerias); a docência em arte, que te faz ir além dos seus próprios limites e ver o outro. E nesse momento, o início de um pós-doc para dar continuidade ao trabalho e reflexão como artista, com o fomento de um órgão público – fundamental para viabilizar o desenvolvimento das reflexões que venho fazendo e torná-las concretas, capazes de dialogar com o mundo.
Abaixo algumas imagens do trabalho da artista em exposição na Dap.