ENTREVISTA COM O ARTISTA GUILHERME PORTELA

O artista Guilherme Portela participa da exposição ARTE LONDRINA 4 – TEMPORALIDADES, SOBREPOSIÇÕES E APAGAMENTOS. Enviamos algumas perguntas para que possamos conhecer mais sobre o processo e as referências do artista.
1 – COMO UM TRABALHO COMEÇA?
As obras que enviei ao Arte Londrina 4 tiveram como ponto de partida um dos campos de estudo da pesquisa que realizo sobre “manifestações da memória”, obras essas que fazem parte da série Materialismos, iniciada em 2015. A partir de questionamentos de como a memória é construída, como mantemos e descartamos lembranças ou registros do passado e que manifestações acontecem com o que fica, iniciei este projeto onde procuro, através do desenho a óleo feito diretamente sobre fotografias, quase que revelar que estes desenhos, estas formas negras, que podem ser entendidas também como espaços que por vezes engolem quase que a totalidade da imagem, se tornam manifestações físicas da memória, daquilo que não lembramos mais ou que selecionamos, conscientemente ou não, para que seja apagado ou esquecido. Mas ao fazer isso surge também a ideia que ao tentarmos esse apagamento é criado ao mesmo tempo com essas formas, que por vezes podem lembrar silhuetas ou resquícios formais daquilo que tentou apagar, uma materialização dessa tentativa de apagamento tornando física a presença da memória.
2 – QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUÊ?
Considero bastante significativo o trabalho realizado por artistas neoconcretos brasileiros como Lygia Clark e Hélio Oiticica, que levaram a arte feita naquele momento a outros campos, a outros questionamentos, a outras formas de “perceber” ou “sentir” a obra de arte em si. No campo contemporâneo procuro acompanhar a pintura de artistas Paulo Pasta, Rodrigo Andrade e Tatiana Blass, pelo tratamento matérico da cor e relações dessa materialização com a memória também.
3 – O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
La Chambre Clair (a câmara clara ou lúcida, em tradução livre) Roland Barthes, Gallimard, 1980. E Susan Sontag (Entrevista Completa Rolling Stones)
4 – QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Histórias, narrativas do cotidiano, conflitos político-sociais e também comportamentais e manifestações da arte produzida ontem e hoje.
5 – O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Desdobramentos da série Materialismos, pinturas e desenhos diversos. Também me preparo para iniciar um mestrado em Artes Plásticas, onde acabei de ser aprovado para início este ano em setembro próximo na École National d’Art Supérieure de Paris-Cergy (ENSAPC), no qual pretendo tratar exatamente destes desdobramentos.
6 – QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?
Email, notícias, salões de arte, acadêmicos e compras diversas.
7 – QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?
Possuo um gosto eclético, mas se fosse identificar algo comum em tudo que escuto, seria a percussão. Desta forma tenho ouvido música africana, jazz, rock, erudita e música brasileira do período dos anos 60 aos 80 aproximadamente.
8 – QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ?
Um momento bastante importante para mim, para meu trabalho em arte especificamente, foi conhecer e estabelecer um diálogo constante com o curador Douglas de Freitas em 2014 que me ajudou significativamente a enxergar rumos e possibilidades em minha produção atual artística.
Abaixo algumas imagens do trabalho do artista durante a abertura da terceira exposição do Arte londrina 4, Temporalidades, Sobreposições e Apagamentos.