Entrevista com o artista Fernando Weber
Fernado Weber é um dos 22 artistas participantes da exposição “O espaço sonha o sujeito”, referente ao edital Arte Londrina 3.
Enviamos para ele algumas perguntas para que todos nós possamos conhecê-lo melhor e saber mais sobre seus trabalhos e referências:
– COMO UM TRABALHO COMEÇA?
Creio ser difícil determinar um ponto de inicio(começo) devido à consideração de que estou imerso no processo artístico de criação (estando mais localizado sempre num meio do que inicio/fim),creio que estamos sempre atentos a possibilidade de inicio de uma criação artística ou em vias de visualização dela (sendo que Cildo Meirelles cita que o trabalho artístico de verdade acontece na memória), pode se dar em qualquer momento. Costumo também questionar a idéia de arte como trabalho. Noto que em meu modo de operar lido com o inicio do trabalho ligando-o a outro que eu já tenha criado, num sentido de comparação, diferenciação,processo recorrente de edição/montagem/organização. Olhar para o produto artístico e perguntar do que ela precisa, quais necessidades de expansão e devires necessários (dimensões, materiais, técnicas etc) são formas de começos
– QUE ARTISTAS OU TEÓRICOS VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES? POR QUE?
Considero todo artista importante pela particularidade de suas propostas; Existem alguns que admiro mais por seu contexto hisótico, outros por suas proposições artísticas, outros por semelhança com minhas criações. Dependendo do foco, poderia variar minha resposta, porém cito a dois artistas que sempre me acompanharam em minha forma ética/estética de me relacionar com a arte que foram Hélio Oiticica e Lygia Clark, por suas proposições que extrampolam o objeto e findam em seu contexto artístico claras evidencias de que suas propostas estavam expandindo o campo de possibilidades das artes plasticas, por meio de vivências e materiais art[isticos efemeros e descompromissados com uma formalidade do pensamento, sendo propostas transitórias que podem ser repetidas e vivenciadas até hoje pela facilidade de reproduzir os objetos criados por estes artistas.
– O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO NO MOMENTO?
Acabo de ler Salvador Dali (seus diários) Marguerite Duras o livro “chuva de verão”
Sinopse – Chuva de verão – Marguerite Duras
Ernesto é o filho mais velho de um casal de imigrantes que mora num conjunto habitacional em Vitry. Todos vivem numa realidade muito particular, especialmente Ernesto. Sua sabedora começa a delinear-se quando seus pequenos irmãos encontram um livro muito grosso, encadernado em couro e parcialmente queimado e entregam-lhe o volume. Ernesto começa a lê-lo, descobrindo que conta passagens da vida de um rei de Israel. Detalhe importante: Ernesto nunca aprendeu a ler. (uma de minhas escritoras favoritas, escreveu O amante, um de meus livros favoritos) Li também um livro de Italo Calvino – Marcovaldo, famoso por suas cidades inventadas que muito me inspiraram e neste livro Em plena selva de asfalto e cimento da cidade industrial, o operário Marcovaldo busca a Natureza. Mas existe, ainda, a boa e velha Natureza? Ou tudo não passa de imitação, artifício e engano?
Personagem cômica e melancólica, o sonhador Marcovaldo não tem olhos adequados para semáforos, cartazes ou vitrines, signos da vida urbana e da sociedade de consumo. Mas está atento aos cogumelos que brotam no ponto do bonde, ao mofo nas bancas de jornais, às aves migratórias ou às possibilidades de caçar e pescar dentro da cidade, enfrentando as mudanças de estação e descobrindo as misérias da existência.
Marcovaldo, publicado pela primeira vez em 1963, traz as marcas do neo-realismo em que se formou Calvino (ao lê-lo, como não lembrar de uma boa comédia familiar italiana?), ao mesmo tempo em que se abre para o mundo fantástico que caracteriza tantas obras suas já conhecidas do público brasileiro. Acompanhado destes estava um livro de Roland Barthes intitulado a Camara Clara, referenciado no campo da fotografia, de um poético-teórico que retornei a ler por ocasião de estar organizando a curadoria de uma exposição acerca da fotografia.
– QUE TIPO DE COISA CHAMA SUA ATENÇÃO NO MUNDO?
Somos e estamos afetados a todo momento em nossa passagem, algumas vezes focando nossa atenção para determinada questão. Dentro dos possíveis tópicos a serem levantados cito a efemeridade, transitoriedade, formas de tempo, a passagem do tempo, a paisagem e os elementos da natureza que constituem formas de organização e vida anteriores aos humanos no mundo.
– O QUE VOCÊ ESTÁ PRODUZINDO AGORA?
Atualmente, tenho escrito sobre meu processo de pesquisa, atualizado documentações artísticas de eventos que partcipei e irei participar. Acabo de produzir uma exposição intitulada “arquive-se” no qual consistia de duas prateleiras e uma mesa. Numa das prateleiras haviam obras de artistas de carater portátil pertencentes a meu acervo pessoal, contendo mais de 120 propostas de diferentes artistas. Outra prateleira seria para colocar os trabalhos que fossem doados a essa biblioteca/acervo e a mesa continha propostas artisticas que fossem feitas para doação, contendo obras de outros 30 artistas convidados. No estúdio de criação, estou organizando exposição individual a ser realizada na Galeria El Clandestino em Joinville, estou reunindo propostas dos ultimos 4 anos que tem como nome de exposição “Pangéia” ou seja, discursam sobre a origem do mundo. Apresentando colagens, aquarelas, videos, publicações de artista, esta exposição apresenta a partir da pesquisa por elementos da paisagem, formas e objetos não usuais em nossa memória ao citar-se paisagem, sendo que trabalham com figura de cometas, terremotos, relatos de viagem, paisagens interplanetares, arquivos fotográficos de telescópios etc . No objetivo também de questionar as origens do processo artístico, como os da paisagem e história humana.
– QUE SITES VOCÊ COSTUMA VER?
Consulto muito sites de artistas contemporaneos brasileiros e estrangeiros que estão trabalhando e atuando artisticamente em diversos espaços, no sentido de me manter atualizado. além de uma revista que assino intitualda Kolajmagazine que atua no sentido de informar sobre matérias, artigos e fatos históricos da colagem.
– QUE MÚSICAS VOCÊ OUVE?
A citar os ultimos interpretes e cantores que ouvi:
Caetano Veloso ( adoro o album chamado Transa)
Nils Bech (artista visual , bailarino, dançarino e cantor que integra diversas linguagens, gosto muito)
Gal Costa (comemorou 69 anos e 50 de carreira)
entre muitos outros
– QUE EXPERIÊNCIA(S) COM ARTE FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ E PARA SUA CRIAÇÃO?
Os cursos, oficinas, workshops, aulas, exposições visitadas, artistas conhecidos, livros lidos, professores, muito interesse no assunto, vontade de aprender, curadorias realizadas, amigos artistas, minha produção artística,grupos de pesquisa, discussões e debates, trabalhos prestados a museus e escolas, seminários, palestras etc somam-se aos fatores mais importantes em minha educação artística e minha criação.